Artigo

A IMPRESCINDÍVEL CONVERGÊNCIA

O Relatório do Envelhecimento 2018 (The 2018 Ageing Report[1]) evidencia um duplo repto: o acelerado envelhecimento da população portuguesa (em 2050, Portugal será o 4.º país mais envelhecido do mundo) e o acentuado declínio populacional, prevendo-se que, em 2070, Portugal terá apenas 8 milhões de habitantes (-23%) e apenas 4,2 milhões de pessoas, com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos a trabalhar (-37%).

Haverá uma tendência para o Estado gastar mais em saúde, dedicando-lhe 8,3% do PIB.

No Japão, o país mais envelhecido do mundo, Os robôs surgem como uma salvação mais ou menos mecânica. É com eles que contam para ajudar a cuidar de idosos, conduzir veículos ou fazer descer drasticamente os gastos com saúde.”

Contudo, serão os robôs a panaceia para a falta de pessoas para o número crescente de idosos a precisar de cuidados? A revista Courrier Internacional (julho de 2018), que tem como tema de capa Japão: Bomba – Relógio Demográfica nos País do Sol Nascente Poente, dá nota de que, segundo as estimativas do Ministério da Saúde Japonês, os robôs humanoides, capazes de captar emoções e interagir, vão substituir 380 mil funcionários no sector dos cuidados paliativos em 2025. Mas, atenção, “o custo e a segurança são dois grandes obstáculos ao desenvolvimento de robôs especializados nos serviços aos humanos.”

Queremos, num futuro mais ou menos próximo, ser cuidados por máquinas ainda que ultra-inteligentes e tecnicamente aptas?

O envelhecimento da população está intimamente associada à demência, sendo a idade o principal fator de risco. Segundo o relatório Cuidados necessários: Melhorar a vida das pessoas com demência, divulgado pela OCDE (Care Needed: Improving the Lives of People with Dementia[2]), Portugal é o quarto país da OCDE com maior número de casos de demência e está entre os países com pior resposta para este grave problema de saúde, já considerado, em 2012, pela Organização Mundial de Saúde, uma Prioridade de Saúde Pública.

A velhice não deve ser encarada como um problema nem a demência como um motivo de alarme social. O aumento da esperança de vida deve ser motivo de orgulho, um avanço civilizacional e devemos, isso sim, preparar-nos, enquanto comunidade, para darmos a melhor resposta quando o envelhecimento deixa de ser tão positivo e a incapacidade e a dependência vão, progressivamente, limitando a pessoa, como ocorre no caso das pessoas com demência.

O desafio é colossal e ainda não estamos preparados para uma nova, urgente e imprescindível cultura de cuidados.

Há sinais positivos, refiro-me à Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável 2017 – 2025[3] e à Estratégia da Saúde na Área das Demências (Despacho n.º 5988/2018[4]).

A estratégia para as demências merece o nosso aplauso e é uma vitória de todas as pessoas com demência, dos seus cuidadores e das suas famílias. Queremos continuar a ser um parceiro ativo na implementação desta estratégica que prevê, no prazo de um ano, a implementação de Planos Regionais com medidas adaptadas às especificidades da região em que atuam e articuladas com o Plano Nacional de Saúde e o Plano Nacional de Saúde Mental.

Acreditamos que foi dado mais um passo importante para a clarificação de um percurso de cuidados, nomeadamente no que concerne à identificação precoce; diagnóstico integrado; planeamento de cuidados e intervenção terapêutica.

Sendo esta estratégia para a área da saúde, continuamos a pugnar pela criação de um Plano Nacional para a Demência que englobe estimule a imprescindível densificação da convergência entre os serviços de saúde e os serviços sociais.

[1] https://ec.europa.eu/info/sites/info/files/economy-finance/ip065_en.pdf

[2] http://www.oecd.org/health/care-needed-9789264085107-en.htm

[3] https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2017/07/ENEAS.pdf

[4] https://dre.pt/application/conteudo/115533450

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