Artigo

SENESCERE – 1

O sol desencarde-nos, vitamina-nos e… dulcifica-nos. Hoje está sol. Um sol a fazer braço de ferro com a temperatura e a amenizá-la. É quanto basta para injectar dinamismo nas nossas coalhadas seivas. Um domingo filtrado num sereno silêncio. Nem música ouvi. Escrevi e li…

Doem-me as costas. Uma dor incerta, instável na sua intensidade e localidade, variando de uma moinha a rumorejar sussurros, até um rufar forte de tambor, passando o som/dor da base da nuca para o fundo das costas, lugar para ela decerto aprazível, pois aí se espraia e instala com uma indolente fixidez. Evito tomar o analgésico… mais logo, mais logo… para me poupar de a juntar à insónia.

Falei com R-reumatologista que falou com E-neurocirurgião. Confiou-me que lhe deu os meus exames para estudar. E aí está, a minha interioridade à vista desarmada, pretensiosamente objecto de investigação pelos pesquisadores do “pathos”…

Somos todos uma “paixão” adiada. Uns objectos móveis, continente de todas as latentes deteriorações orgânicas, hibernadas na espera paciente do momento em que irão surgir. Como a peste, no final do livro de Camus.

Na noite esqueço-me. Mas preciso de dormir. Sem o sono tudo se torna, às escuras, hiperfocado e anormalmente nítido. Por vezes, como se usasse uma determinada lente, faço um “bokeh” exagerando, ou melhor, exacerbando a nitidez num exclusivo ponto e tornando “flou” tudo em redor.

Esse ponto é invariavelmente tua pessoa, num pormenor qualquer destacado e exagerado até à reverberação das linhas, assim tornadas um fluido a extravasar, trémulo, indeciso e vibrante o seu anti-pathos estertorante.

O fusível da fisiologia-fome, espécie de chip abdominal, propaga num toque de quase sineta, o sinal-fome. Tenho que o/a apaziguar e luto contra o atrito que me mantém nesta quase inércia, apenas perturbada pelo murmúrio do lápis a riscar significantes nestas folhas alinhadas do moleskine, de capa azul-quase-caledónia…

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