Artigo

A CAIXA DE PANDORA, O 3.º SETOR E OS CROMOS RAROS

Está definitivamente aberta a Caixa de Pandora, foram libertados todos os males menos a esperança. Segundo a mitologia grega é mau presságio, a esperança pode ser vista como um mal da humanidade que traz uma ideia superficial acerca do futuro.

[Acordámos] todos neste mês de dezembro com a triste notícia que envolve uma vez mais o poder político, desta vez incluindo altos cargos de instituições supostamente sem fins lucrativos e financiadas pelo Estado.

Se já é suficientemente grave e verdadeiramente lamentável o uso e o abuso do Erário Público, a que temos assistido impávidos e serenos, eis que chegamos ao limite.

Nos próximos tempos vão aparecer novos casos, pessoas conhecidas e grandes instituições envolvidas. Não me venham depois falar em cabalas nem que [ele é tão boa pessoa, é impossível ter feito isto]. Está na altura de abrirmos os olhos e fecharmos os bolsos. Vamos perceber que nem sempre [Raríssimas] foram estas pessoas nem este tipo de atitudes. Já escrevi e refleti sobre isto, mas continuo sem perceber o porquê de abandonarem o 3º setor – sim porque nós só perdemos aquilo que abandonamos.

Há, no entanto, algo mais importante do que todos estes escroques e as suas tropelias. São as instituições que nos merecem todo o respeito, são os mais novos e os indefesos, os doentes e os solitários, os idosos ou os abandonados. Não podemos nunca misturar, temos que saber cada vez mais separar o trigo do joio e não prejudicar estes inocentes por tudo isto. Talvez seja mesmo altura de repensarmos a forma como apoiamos algumas instituições ou de criarmos estruturas fiscalizadoras que não permitam que continuemos a assistir á vandalização da imagem do 3º setor. A conivência entre diversas instituições que tem permitido por exemplo à Igreja Universal do Reino de Deus comprar tudo e todos incluído crianças, têm que terminar e nós temos mesmo que agir. Basta de lições, chega de acharmos [normal], e porque não é connosco, assobiarmos para o lado. Continuam a existir muitas instituições, muitas crianças e pessoas idosas que merecem o nosso total empenho e apoio. A própria Raríssimas tem que ser apoiada mas com gente de bem à frente dela. Não nos podemos imiscuir de ajudar os que mais precisam só porque temos problemas de percurso. Talvez o nosso apoio tenha que passar a ser de maior proximidade, interessarmo-nos pelas próprias instituições e fazendo parte delas sem segundas intenções. Apoiar de facto quem mais precisa. Quanto mais pessoas de bem estiverem à volta delas mais difícil será este tipo de cenários se tornarem moda.

Hoje no último debate quinzenal, custou-me que o caso Raríssimas tivesse sido usado como ataque politico, tal como a morte de quase uma centena de pessoas neste verão passado. Neste momento a desgraça é desculpa e arma, onde todos os termos vão dar a uma [ Boa Morte ], título de  Hans Kung, livro que aconselho desde já, para quem se interessar em conhecer a eutanásia nos seus verdadeiros dois lados.

Bruno Nogueira descreve Paula Brito e Costa: [A presidente da Raríssimas sofre de uma doença pouco rara: a ambição desmedida, capaz de todas as imoralidades, ao ponto de explorar para proveito próprio a tragédia do seu filho. Imagino que ela tenha começado tudo motivada por ajudar os outros que sofreram como ela e o filho, mas algures ali pelo meio deslumbrou-se e infelizmente somos um país onde os deslumbrados costumam andar de mãos dadas com o Estado), tese que sub-repticiamente foi sendo espalhada onde Paula Brito e Costa estava feita com o Partido Socialista, onde desenvolveu uma rede de contactos e favores para depois lhes sacar o [guito] como dizem os lindos e-mails. Entre esses favores está uma viagem de ida num dia e volta no outro à Suécia, para participar numa conferência, de que todos devemos sentir imensa inveja.

O terceiro sector é necessário. Mas, quando usa dinheiros do Estado, tem de garantir a igualdade de acesso, a transparência no funcionamento e a utilização racional de recursos. A dimensão das transferências de funções do Estado para este sector, passando de complementar a substituto, torna quase impossível fiscalizar o cumprimento destes deveres. Mais difícil será se se instalar a ideia de que o Estado tutela estas instituições e anda a fiscalizar se gastam dinheiro que não é público em gambas e vestidos. Isso é papel da sociedade civil e da justiça. E chegamos ao verdadeiro problema: estamos a transferir imensas funções para instituições com muito pouca massa crítica e participação cívica, que se transformaram em meros prolongamentos informais do Estado. E é aí que aparecem bons negócios. Não podemos ambicionar um 3º setor próspero, quando nele apenas se utilizam os recursos básicos de uma sociedade que se diz democrática.
Eu, como muitos, acredito na potencialidade do 3º setor, pelo mesmo motivo para que foi construído, para a solidariedade. Sustentabilidade, transparência, universalidade e criação de impacto social são as suas bases e pelo que sinto, não é assim tão difícil mudar.

 

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