Há momentos em que nos damos conta de algo óbvio, mas que raramente paramos para pensar. Recentemente, numa conversa com uma das minhas filhas, ela partilhava como era interessante acompanhar as diferenças de percurso dos seus antigos colegas de liceu: “durante anos, passámos várias horas diárias juntos, e agora, cada um segue o seu caminho e são tão diferentes!” Enquanto alguns colegas seguiram diretamente para o mercado de trabalho, outros ingressaram no ensino superior, espalhando-se por áreas tão diversas como a arquitetura – onde agora constroem maquetes-, a medicina – onde assistem e participam em procedimentos clínicos-, ou ainda a matemática, informática e artes, cada um imerso no seu universo de descobertas. Estava fascinada com as múltiplas vias de opções possíveis e com a forma como os caminhos profissionais se desenvolviam em percursos cada vez mais díspares entre si.
Escutei o que ela disse e pareceu-me importante conduzi-la mais longe, nessa constatação. Quando olhamos para os percursos dos jovens, ninguém espera que todos sigam exatamente o mesmo caminho, que tenham as mesmas experiências ou desenvolvam as mesmas competências. Pelo contrário, essa diversidade é valorizada, vista como natural e enriquecedora para a sociedade. Então, porque razão, quando falamos de pessoas mais velhas, esta lógica parece desaparecer?
Utilizando a metáfora da estrutura de uma árvore, fiz o paralelismo com o crescimento das crianças e o seu desenvolvimento enquanto adultos: no início da vida, a maioria das crianças tem uma rotina equivalente durante os primeiros anos de vida, que passa por frequentarem o pré-escolar, depois o ensino básico e finalmente o secundário. Essa fase corresponderia ao tronco da árvore que se eleva da terra num único sentido, agregando, de forma coesa, todos os veios que, mais acima, se dividirão em ramos.
Com o termo da escolaridade obrigatória, os percursos começam a dividir-se e a variar entre si. Esta fase corresponde à ramificação do tronco nos primeiros ramos, dos quais crescem, depois, outros ramos, de acordo com as escolhas que cada um faz nas suas vidas: em que área trabalhar, casar ou não casar, mudar de emprego ou de país, enfrentar desafios inesperados como doenças ou perdas, ter ou não ter filhos – cada escolha, cada circunstância, molda um percurso único. Tal como os ramos de uma árvore que crescem e se desenvolvem em inúmeras direções, compondo a estrutura de suporte à copa da árvore, onde nascem as folhas, os frutos e as flores, neste paralelismo, com a longevidade, encontramos as pessoas mais velhas de uma sociedade.
Se aceitarmos a metáfora da árvore como uma representação simbólica do percurso da vida humana, então, devemos também aceitar que o envelhecimento não pode ser visto como uma fase homogénea e universal, mas sim como um reflexo da diversidade dos percursos que cada pessoa trilhou.
Se, ao longo da vida, cada pessoa cresce como um ramo único de uma árvore – moldada por experiências, escolhas e circunstâncias –, então porque razão, ao chegarem a uma idade avançada, se espera que todas as pessoas mais velhas sejam iguais? Como se, de repente, todos os ramos da árvore se transformassem numa estrutura uniforme, sem diferenças entre si. É um absurdo, mas é exatamente assim que o idadismo funciona: reduz a complexidade e a diversidade da experiência humana a um estereótipo único de declínio, fragilidade e dependência.
Ora, se a árvore se desenvolve em função da qualidade do solo em que cresce, do clima a que está exposta e das condições ambientais que a rodeiam, o mesmo acontece com as pessoas. A forma como cada indivíduo envelhece depende das condições que encontrou ao longo da sua trajetória de vida, das oportunidades a que teve acesso e das escolhas que fez. O processo de envelhecimento não é apenas uma questão biológica, é também uma questão social, ambiental e económica.
Esta visão redutora de pensar que as pessoas mais velhas ficam todas iguais, não afeta apenas os mais velhos, mas empobrece a sociedade como um todo. Quando assumimos que uma pessoa de 70 ou 80 anos já não pode aprender, inovar ou contribuir, perdemos a oportunidade de beneficiar da sua experiência e talento. Quando rotulamos todos os idosos como frágeis, ignoramos aqueles que são ativos, produtivos e independentes. E quando desenhamos políticas públicas ou ambientes urbanos sem considerar a diversidade do envelhecimento, criamos barreiras desnecessárias que limitam a participação social.
Se ninguém esperaria que todos os jovens tivessem o mesmo percurso ou que todos os adultos tivessem as mesmas experiências, porque aceitar essa lógica quando falamos de envelhecimento?
Cada pessoa envelhece de forma única, trazendo consigo uma bagagem de experiências, saberes e contributos valiosos para a comunidade. Tal como as folhas, flores e frutos de uma árvore são expressão da sua vitalidade e resiliência, as pessoas mais velhas são o testemunho vivo de vidas plenas e multifacetadas.
Está na hora de desconstruirmos a visão ultrapassada e estereotipada da velhice, reconhecer a diversidade da população idosa e construirmos uma sociedade onde todas as idades são reconhecidas na sua riqueza e diversidade.
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