A cultura em que vivemos exalta a juventude. Se ligarmos a televisão, ou abrirmos uma revista, somos bombardeados com imagens que evidenciam a beleza da juventude, pele macia, cabelos pretos, corpos firmes e atléticos. No entanto uma pesquisa realizada já em 1999 pela revista AARP e Modern Maturity revelou que a percentagem de pessoas com 45 anos ou mais que consideram os seus parceiros fisicamente atraentes aumenta com a idade. Aliada à aparência física com o avanço da idade está o ato sexual na velhice.
Habituamo-nos a ver a imagem da avó de cabelos brancos entretida no seu tricô e o avô que joga as cartas e fuma o seu cachimbo, e esta imagem não vai muito para além disso.
Apesar de percebermos o envelhecimento como sendo um processo natural da vida humana, a este estão inerentes uma gama de mudanças biopsicossociais que alteram as relações com o meio em que o individuo está inserido. Na grande maioria das vezes, a visão do envelhecimento como sendo limitador e incapacitante prevalece, o que faz com que estes preconceitos sejam incorporados na realidade dos idosos, como é o caso da sexualidade.
Inconscientemente a nossa sociedade impõe-lhes alguns padrões de comportamento, rotulando-os como seres assexuados ou incapazes de sentir desejo. Quando os mais velhos expressam a sua sexualidade, geralmente isto é encarado com escárnio, sendo que, o que é visto como um processo normal no período compreendido entre a puberdade e o início da maturidade, passa a ser algo de julgamentos, tabus e preconceitos.
No entanto, importa saber se são as mudanças físicas decorrentes do processo de envelhecimento que impedem os idosos de vivenciarem a sua sexualidade como parte de um processo normal aos olhos da sociedade, ou se os principais fatores que influenciam de maneira negativa a sexualidade nos mais velhos, são os aspetos proibitivos culturalmente cultivados, associados ao desconhecimento sobre a sexualidade nesta faixa etária.
Em Portugal os estudos sobre a temática centram-se sempre na sexualidade dos jovens e são escassos os que abordam a sexualidade nos idosos. No entanto, os que existem dão-nos uma noção contrária as ideias tradicionais concebidas. Pode referir-se a título de exemplo um estudo realizado por Valente no concelho de Pombal, em 2008, onde numa amostra de 32 pessoas idosas, afirmam manter a atividade sexual após os 65 anos, não demostrando quaisquer constrangimentos em abordar o tema. Ou um segundo estudo mais recente, levado a cabo com idosos participantes num grupo de convivência, de idades compreendidas entre os 60 e os 85 anos, onde se verifica que para estes o sexo representa a busca por uma realidade pessoal que vai para além do prazer físico. Apesar de uma frequência diminuída, a prática sexual é relatada como ativa nesta faixa etária, demostrando o interesse e a vivência da vida sexual ainda que dentro das suas limitações. (Pinto, M., Santana, E., et al., 2018)
Dias (2008) refere que uma das atividades que está ligada à qualidade de vida das pessoas é a sexualidade, o corpo do homem é sexuado, assim como o programa genético, o sistema endócrino, os órgãos genitais internos e externos, o cérebro e a figura corporal. Logo é possível afirmar que a sexualidade está, desta forma, biologicamente enraizada. Mas para além da parte biológica importa compreender a psicologia sexual, ou seja, a sexualidade vista como uma identidade, que é explicada de forma como o indivíduo estabelece a relação consigo e com o mundo onde a idade não se apresente como um factor de diminuição do prazer sexual. A psicologia sexual compreende o organismo como um todo que se modifica com a idade, e dentro desse contexto a sexualidade também se transforma, mas não se torna menos agradável.
Embora nos últimos anos tenhamos vindo assistir a uma atenção crescente no que respeita a sexualidade das pessoas de mais idade, existe ainda muito para fazer a esse respeito. Se a sociedade veicula uma sexualidade pouco inclusiva para os idosos e se os próprios profissionais de saúde, envoltos na sua falta de tempo e dificuldades pessoais, não tornam o tema uma necessidade a ser falada com abertura suficiente que permita aos mais velhos expressar os seus problemas ao nível da intimidade, tende a instalar-se por estes uma resignação e conformismo.
A sexualidade representa uma necessidade inerente ao ser humano e a sua expressão constitui um direito independentemente da idade. Envelhecer não é sinónimo de cessar capacidade de amar, não há incapacidade para relacionamentos emocionais. Não existe idade limite que determine o fim da atividade sexual, dos pensamentos ou dos desejos sexuais. Mas a pressão exercida pela sociedade faz com que a generalidade dos idosos experimente sentimentos de culpa, vergonha e se considerem pessoas anormais apenas por manterem o seu interesse sexual.
TEXTO: SANDRINA NÉRI
FOTO: ARIANNE CLÉMENT
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