Artigo

AS RUGAS SÃO O MENOR DOS PROBLEMAS

Blogueiros do envelhecimento, influencers 50 e 60+, ativistas da maturidade, tem nome que não acaba mais para designar a turma que já viveu mais de meio século. E as abordagens, claro, são diversas. Dos que falam sobre as doenças específicas, comuns às pessoas mais velhas, aos que discutem sobre a importância da inserção digital para não virar pária social. Nesse mar de influenciadores, têm nadado de braçada tantas mulheres incomodadas com as rugas.

Ah… as rugas.

Das rugas nós temos fugido como o diabo da cruz.

Sobre as rugas temos pensado assim que fincamos os pés na vida adulta.

Contra as rugas temos lutado, muitas vezes nos entregando a tratamentos estéticos não muito confiáveis, alguns sem qualquer comprovação científica, quase todos muito dispendiosos.

E dá-lhe botox, preenchedores, ácidos, harmonização facial, um exército de cremes para que, no fim, percebamos incrédulos: não é que elas estão ali; as rugas?

Pois é, as rugas virão.

Mais ou menos profundas, com a pele mais ou menos flácida, ofuscando ou só fazendo contorno à alegria ou à tristeza que carregamos nos nossos rostos para estampar a história de vida que conseguimos construir.

A esta altura, você pode estar pensando que vou tentar emplacar aquele discurso do “vamos envelhecer mesmo, para que tanto gasto, para que tanto cuidado, para que tanto embate contra as rugas?”. Mas não se trata disso.

O corpo é essa morada sagrada que nos carrega pela vida. Merece ser amado e bem cuidado, tem direito de ser tratado da melhor forma que conseguirmos. E encerra por aí. Nosso corpo e nossa cara não podem ser terreno fértil para mais uma entre tantas aflições que se abatem sobre nós ao passar dos 50 ou dos 60 anos.

A aparência, nessa fase do envelhecimento em que temos que nos impor para rebater o idadismo, deveria ser o menor dos nossos problemas.

Não é nas rugas que se depositam os preconceitos. Não é por causa delas, as rugas, que perdemos o sono quando nos recusam para uma vaga de trabalho ou nos deixam invisíveis no canto da sala durante uma festa. Dediquemo-nos a elas, mas com limite e o bom senso que não afronte nossa saúde mental ou nosso bolso. A energia maior, guardemos para os debates sobre por que os velhos representam um estorvo social para tanta gente. E isso não tem nada a ver com ter ou não ter rugas.

INÊS CASTRO 

Jornalista, radialista, escritora brasileira
Durante 20 anos foi editora das revistas Claudia, Nova, Elle, Máxima, VIP, Playboy, VIP e Men´s Health (Editora Abril), colunista e colaboradora nas áreas de beleza, saúde e comportamento da revista Marie Claire (Editora Globo) colunista do jornal Gazeta Mercantil na área de comportamento corporativo e Diretora Editorial das Revistas Corpo a Corpo e Dieta Já (Editora Símbolo)

FOTO DE CAPA: Ilaria Brulini – Shutterstock

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