Artigo

Cultura do voluntariado ajuda a construir um envelhecimento ativo

Precisamos colocar tempo, habilidades e recursos em atividades de ajuda ao próximo

Está claro que envelhecer é uma possibilidade cada vez mais concreta para a maioria da população. Mas por ser uma maratona —e não uma corrida de cem metros—, precisamos nos abastecer de preparo, conhecimento e determinação para poder envelhecer com qualidade.

Desde que esta seção começou, falamos sobre saúde, finitude, segurança, etarismo, racismo, comunidades LGBTImoradiatrabalho, entre outros temas que compõem a complexidade de envelhecer atualmente.

Hoje (dia 24), proponho uma conversa sobre como criar uma cultura pautada no bem comum com o que temos agora em mãos: tempo, habilidades e recursos.

A cultura é um dos fatores que mais influenciam o envelhecimento ativo —cujos pilares são, justamente, saúde, conhecimento, participação e segurança.

Cultura se forma a partir do desenvolvimento do indivíduo e da sociedade de forma ampla, do entendimento de como são construídos valores, comportamentos e visões de mundo e de como o indivíduo modifica o ambiente, sua vida e seu futuro.

A pandemia, sabemos, gerou uma onda de despertar para a solidariedade. Esse despertar pode tomar novas proporções se for transformado em uma cultura do voluntariado e da filantropia por parte da sociedade, das empresas e, evidentemente, de políticas públicas que estimulem essa cultura do doar.

Dados do IBGE apontam que, de 2016 para 2017, aumentou em quase 13% o número daqueles que realizam trabalho voluntário: são 7,4 milhões, 4,4% da população, de voluntários.

No âmbito da filantropia, já em 2020, o Monitor das Doações, levantamento criado pela Associação Brasileira dos Captadores de Recursos, mostrou que as doações de famílias e indivíduos representam 5% do total doado pelo setor privado, ficando atrás somente das empresas do setor financeiro, de alimentação e bebidas e mineração.

Se a pesquisa mostra o protagonismo das pessoas físicas, é bem verdade que a doação de recursos não é estimulada fiscalmente. No estado de São Paulo, por exemplo, existe uma alíquota de 4% sobre a doação, enquanto em países como a Inglaterra há isenção de imposto em doações para instituições de caridade, facilitando a filantropia.

Essa é uma questão na qual, sem dúvida, o país deve se debruçar nos próximos anos. Apesar de tão desigual, estamos longe de ser uma sociedade solidária e generosa.

Colocar tempo, habilidades e recursos em atividades de ajuda ao próximo é construir um envelhecimento saudável dentro de uma cultura para o bem comum.

O desenvolvimento de uma cultura filantrópica permanente faz parte da criação de uma visão de futuro estruturada, fortalecendo o papel social do indivíduo, da empresa e do governo na construção de um amanhã melhor para a sociedade.

 

Bruno Assami

Diretor executivo da Unibes Cultural e membro do conselho do Centro Internacional da Longevidade no Brasil (ILC-BR)

FOTO DE CAPA: Idosos se reúnem no centro residencial Cora, em São Paulo – Eduardo Knapp – 7.jul.17/Folhapress

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