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Envelhecimento: corrida contra o tempo

Aos 65 passamos para a categoria dos idosos, como se de um momento para o outro tudo á nossa volta se alterasse em função da nossa categoria de velhos! É característico ouvir rumores de que “eu já não faço anos”, como se negássemos a passagem do tempo e pretendêssemos estagnar no presente. Porque nos sentimos em pleno agora ou porque tememos a evolução do tempo? Terá que ser necessariamente assim?

Muito se tem debatido sobre o tema do envelhecimento, incluindo a longevidade e a felicidade associada ao mesmo processo. As opiniões dividem-se e multiplicam-se quando se fala em envelhecimento e felicidade, visto a conotação negativa de comorbidade, perda, doença, incapacidade, dependência, associada a esta fase de vida.

A preocupação prende-se com o acrescentar anos à vida, no entanto a importância maior está em debruçarmo-nos cada vez mais em acrescentar vida aos anos, pois de outra forma deitamos por terra o benefício que temos no aumento da esperança média de vida.

Estamos grande parte de nós preparados para viver uma vida que dura um século? Estamos preparados para aceitar as mudanças do tempo e mudar a maneira como planeamos e vivemos todas as fases da vida?

Será que o pensamento de trabalhar até aos 60, 70 ou 80 anos é aterrorizante? Ou conseguimos ver o potencial de um futuro mais estimulante como resultado de ter muito mais tempo extra?

Á bem pouco tempo eramos criados sobre a noção tradicional de uma abordagem em três estágios para a nossa vida profissional: Educação, seguida de trabalho e depois de reforma, mas temos assistido a uma grande mudança, onde o salário confortável e a reforma está a desaparecer e um número crescente de pessoas faz malabarismos transformando as suas carreiras profissionais em várias e diferentes carreiras.

Como podemos nós aumentar de forma mais eficaz a saúde física e mental durante uma vida útil mais longa e mais dinâmica? Como podemos aproveitar ao máximo os nossos ativos intangíveis – como família e amigos – à medida que construímos uma vida produtiva mais longa? Numa vida com múltiplas fases, como podemos aprender a fazer transições tão cruciais e a experimentar novas formas de viver, trabalhar e aprender?

Serão estes fatores que nos limitam no pensamento de envelhecer nos dias que correm, ou podemos nós valer-nos destes fatores de mudança para conseguir um envelhecimento mais positivo e feliz, na medida em que somos inevitavelmente forçados atrasar o processo tradicional de envelhecimento.

Temos vindo assistir há uns anos, a uma preocupação crescente em torno do envelhecimento, basta relembrar o lançamento do novo paradigma, pela OMS (Organização Mundial de Saúde) do envelhecimento ativo, definido como sendo “o processo de otimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem”.

No entanto a definição deixou cair por terra a dimensão psicológica, num universo de pessoas com grandes historiais de depressão, associadas à condição de envelhecimento, baixa aceitação e adaptação à nova condição de vida. De forma a colmatar esta lacuna, aliado ao envelhecimento ativo, surgiu então, o conceito mais alargado de envelhecimento positivo, debruçado nas determinantes psicológicas e promotoras de bem-estar, instituído pela Psicologia Positiva.

Muito se tem trabalhado neste sentido e parece que todos procuramos uma fórmula mágica para o bem envelhecer. No entanto, o que temos são um conjunto de pistas que nos levam no caminho para alancar esse objetivo, como por exemplo as pistas fornecidas pelo Estudo do Desenvolvimento Adulto, da Universidade de Harvard, iniciado em 1938. É o estudo mais longo de sempre sobre o desenvolvimento adulto e o bem-estar ao longo da vida, acompanhando 824 rapazes desde a adolescência até ao fim da vida. Pelo programa já passaram vários diretores, mas foi George Vaillant que documentou algumas conclusões do estudo no seu livro “Aging Well” (envelhecer bem). De entre as quais, sublinhou conclusões como: “as boas companhias e amizades que se fazem durante a vida têm maior impacto face aos acontecimentos negativos; estas relações são facilitadas pela capacidade de gratidão e perdão; ter uma conjugalidade positiva aos 50 anos prediz um maior bem-estar aos 80 anos do que os bons níveis de colesterol com a mesma idade; o abuso de álcool previu consistentemente o envelhecimento mal sucedido, particularmente por comprometer os apoios sociais; o cultivo das relações sociais, a curiosidade intelectual e as aprendizagens depois da reforma são preditores de um maior bem-estar comparativamente com os rendimento económico auferido com essa reforma; e por último, o bem-estar subjetivo (sentir-se bem), tem mais impacto no processo de bem envelhecer do que ter realmente saúde.” O que quer dizer que uma doença crónica ou incapacidade, sendo um desafio, não têm necessariamente de comprometer a satisfação com a vida.

 

O envelhecimento positivo ou feliz não é um processo estanque, mas de uma vida inteira, que se constrói à medida que vamos evoluindo nos estágios da vida. Do exercício físico à atividade cognitiva, é crucial a introdução de mudanças individuais e políticas públicas que aumentem o desenvolvimento humano e diminuam o risco de declínio e comprometimento. Essas mudanças devem ter em consideração a multidimensionalidade implícita no envelhecimento ativo. É inevitável e importante distinguir população, comunidade e programas individuais de promoção do envelhecimento ativo. Em relação á comunidade e políticas públicas devem ter em consideração que nunca é tarde demais para melhorar a saúde e desenvolvimento humano. No nível individual, o envelhecimento positivo deve ser integrado em todo o sistema educacional, a fim de reforçar e tornar o indivíduo consciente do seu poder e controle. No entanto, nós como individuo único, somos sempre o agente ativo, e como ponto de partida deveremos dar lugar a uma projeção do nosso envelhecimento. Viver uma vida com propósito (seja de que natureza for) é essencial.

O que vou fazer quando for velho? Como quero passar as últimas décadas da minha vida? O que tenho de fazer para atingir os meus objetivos?

O que temos como certo é que com os avanços da idade as perdas ganham terreno em relação aos ganhos, assim, é indispensável trabalhar no processo inverso e fazer sobressair os ganhos em relação às perdas, adaptar-se a nova realidade e capacidade, escolher novas atividades. Esta dialética entre ganhos e perdas é dos aspetos mais importantes do envelhecimento e onde em qualquer momento, todos teremos dificuldade de gestão. Ganhamos por exemplo quendo acreditamos que as possíveis limitações são colmatadas por ajudas externas quando já não for possível colmatar as perdas sozinho.

Estabelecer relações sociais positivas, envelhecer não é sinónimo de ter que deixar a nossa rede social, não há idade para ter uma vida social ativa, essa idade é durante toda a vida, com diferentes intensidades e propósitos.

Perceber os trunfos que a idade nos trás, como seja a maturidade, com todas as aprendizagens arrecadadas durante o percurso de vida. A maturidade faz-nos mais objetivos, possibilita um domínio do ambiente que me rodeia, o que posso eu mudar e o que não posso, o que é importante e o que não é tão importante assim. Mas também um domínio sobre mim, percebo-me e interpreto as minhas ações de forma a melhorar e ajustar-me à realidade.

Saber ver e acompanhar cada fase da vida adulta com gratidão, valorizando as coisas boas que acontecem, cultivar memórias, momentos, experienciar emoções positivas e uma história de vida pela qual nos sentimos orgulhosos. Porque um envelhecimento feliz é sinónimo de um percurso de vida bem sucedido.

O café foi considerado em vários estudos como sendo um elemento que pode prevenir doenças neurodegenerativas, mas apenas em situações de consumo ao longo do tempo, um hábito diário. Tal acontece com o envelhecimento que deve ser trabalhado desde sempre e não em momentos isolados. Preparar o corpo, condicionamento físico e nutrição adequada, alimentar o intelecto, fomentando uma aprendizagem continua ao longo de todo o processo, como seres em constante evolução.

Gastamos dinheiro descontroladamente à procura da fonte da juventude. Assistimos a uma proliferação descontrolada de tratamentos que prometem evitar a velhice, muitos desses métodos podem inclusivamente ser nocivos para a nossa saúde, quando a ciência sabe exatamente que tal é um processo natural, impossível de ser retardado, parado ou revertido. Trabalhar para um envelhecimento feliz passa pela aceitação das mudanças tanto na nossa mente como as que são provocadas no nosso corpo, pois isso irá tecer o juízo que faço de mim. Não deixo por isso de me cuidar, apenas é importante consciencializar-me que a única formula mágica existente é o poder da minha mente de crescimento e adaptação.

O envelhecimento é um processo inevitável e natural, mas os velhos de ontem, não são os mesmos de hoje, aos poucos construímos uma nova realidade.

Segundo afirmações de vários autores, as pessoas que olham para o envelhecimento de forma assertiva e vão experienciando emoções positivas, são mais flexíveis, sociáveis e abertas ao novo. Tendem a aceitar e desenvolver um maior leque de estratégias mentais e comportamentais. Conseguem visualizar o todo e focar-se no futuro, o que as leva a nutrir mais esperança, objetividade e resiliência.

Não vamos envelhecer já amanhã, os 65 anos são apenas um mero indicativo. Temos toda uma vida para treinar e aprimorar as condições psicológicas e comportamentais para a construção de um envelhecimento positivo e, portanto, feliz.

 

 

 

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