Artigo

Identidade na Velhice

É inquestionável a importância e o contributo das pessoas mais velhas na sociedade portuguesa, na perspectiva mais economicista de consumidores, como, na perspectiva da intergeracionalidade, de apoio e suporte às gerações mais jovens, quer ainda enquanto “património imaterial”.

A “combinação perfeita entre o velho e o novo”, aplicada à população de faixas etárias diferenciadas de modo a que ambas as partes possam partilhar aprendizagens fruto das diferentes épocas, é uma riqueza que a longevidade veio permitir. No que respeita aos idosos, a experiência de vida e a sabedoria suporte da transmissão de conhecimentos, é complementada pela inovação audácia, inconformismo e mesmo irreverência dos mais jovens. Esta condição permite a este grupo a actualização permanente de conhecimentos e o domínio das novas tecnologias de comunicação e informação, das quais os mais velhos estão em regra afastados. É de salientar que esta preocupação é cada vez mais visível através de diversos programas e projectos sociais existentes em instituições de apoio a pessoas idosas.

Pensar na velhice é proceder a uma viagem no tempo, através de um caminho percorrido com experiências e momentos vividos. É o abrir um livro, onde constam histórias, histórias de vida de gentes iguais a muitas outras, mas que não deixam de ser únicas e individuais. Estas vivências reflectem-se naquilo que cada pessoa é, na sua identidade. No decorrer do tempo somos confrontados com conquistas e derrotas que nos permitem encontrar estratégias de adaptação e igualmente enfrentar as adversidades do dia-a-dia. Por vezes as racionalidades leigas referem que a pessoa idosa torna-se novamente criança, esquecendo-se do percurso e da história de vida do idoso que transporta a experiência de uma longa vida. O idoso é o acumular da sua infância, adolescência e fase adulta. Mantendo traços identitários originais, a identidade vai-se reconstruindo e reorganizando em função de novos contextos pessoais e sociais. Neste sentido, os idosos de hoje não serão os mesmos de amanhã, nas suas diversas características e interesses pessoais. Como tal, para irmos ao encontro da individualidade da pessoa idosa e das suas necessidades é necessário, antes de mais, de as conhecer e dos próprios se darem a conhecer. Cada indivíduo é o espelho da sociedade que o rodeia e, neste aspecto com a evolução da mesma, a pessoa idosa vai igualmente evoluindo tornando-se cada vez mais exigente.

O Assistente Social assume, cada vez mais, um papel necessário na sociedade, junto da população em geral na medida em que permite desmistificar algumas questões em torno do envelhecimento, e da acção directa sobre este grupo em particular. A especialização em Gerontologia Social permite ao Assistente Social obter conhecimento teórico e um instrumental operativo mais direccionado, para a identificação das necessidades da pessoa idosa, para gerir os recursos existentes no mercado, nas instituições e na comunidade, de forma a proporcionar melhor qualidade de vida ao indivíduo.

A Gerontologia Social, no decorrer da sua afirmação enquanto área multidisciplinar e prática social, tem vindo a adoptar novas posturas, procurando desmistificar a conotação negativa em torno do envelhecimento. Assim, a Gerontologia Social buscando referências da Antiguidade Clássica, da valorização dos idosos como seniores priores, considera a saúde com um bem-estar físico, psicológico, social e espiritual, a dignidade da pessoa humana e o seu valor intrínseco em qualquer fase da vida. Alguns dos conceitos que a Gerontologia Social defende dizem respeito ao envelhecimento activo nos seus pilares de participação, saúde e segurança considerando a autonomia, actividade e empreendedorismo. Estes valores consideram-se construtivos da identidade, uma vez que fomentam a re-integração da pessoa idosa quanto à sua participação na sociedade.

O pensamento de Hermann Hess, nomeadamente “aquele que envelhece e que segue atentamente esse processo poderá observar como, apesar de as forças falharem e as potencialidades deixarem de ser as que eram, a vida pode, até bastante tarde, ano após ano e até ao fim, ainda ser capaz de aumentar e multiplicar a rede das suas relações e interdependências e como, desde que a memória se mantenha desperta, nada daquilo que é transitório e já se passou se perde”, vai ao encontro do pensamento de alguns idosos na medida em que estes, embora considerem que no decorrer do processo de envelhecimento vão perdendo algumas das suas capacidades, procuram respeitar a sua identidade procurando a satisfação e realização dos seus interesses e necessidades.

 

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