Artigo

VELHICE NA POBREZA – COM PARKINSON OU ALZHEIMER – É DESUMANIDADE

“Imaginem o meu sábado: vou de manhã ao meu bairro clandestino, que está a ficar velho e cheio de velhos sozinhos. A velhice na pobreza parte o coração. A velhice na pobreza e com Parkinson ou Alzheimer é desumanidade. Querem fazer voluntariado e salvar o mundo? Não precisam de ir para a Síria, passem nos bairros entre Sacavém e Vila Franca. Há aqui muita gente para ajudar. Precisam de ajuda domiciliária, económica, médica, mas também ajuda mediática e política.” (Henrique Raposo, Expresso, 25/10/ 2018)

Quando se soma ao envelhecimento, a pobreza, a solidão e a doença, como Parkinson ou Alzheimer, toda a ajuda é pouca.

A demência é um desafio enorme para um número crescente de famílias, uma das principais causas de Dependência e Incapacidade. Não podemos ignorar o impacto devastador nas pessoas com demência, nas famílias, nos cuidadores e nos sistemas de saúde e de proteção social.

Há muito trabalho para fazer, como escreveu Henrique Raposo, num bairro de uma grande cidade, mas também num lugar longínquo e isolado, algures no interior do Portugal profundo.

O nosso sentimento de impotência cresce sempre que recebemos solicitações às quais não somos capazes de dar a resposta que as pessoas procuram e à qual têm direito.

Recebemos, com estupefação, a notícia de aprovação do diploma da proposta do Governo da Lei de Bases da Saúde, sem que o mesmo contemple um artigo especificamente dedicado aos cuidadores informais, como estava previsto na proposta apresentada ao executivo pela comissão coordenada pela ex-ministra Maria Belém que, numa primeira reação ao diploma aprovado, disse:

“Para nós foi importante dignificar o papel das pessoas que exercem essas funções para que haja o reconhecimento da sociedade. Assim, não nos parece que fique adequadamente reconhecido em sede de lei de bases.”

A proposta enviada à tutela, além de contemplar o estatuto, previa a imprescindível articulação entre as áreas da Saúde, Trabalho e Segurança Social, fundamental para a integração dos cuidados e otimização das respostas da saúde e sociais existentes e / ou outras que possam vir a ser criadas.

O senhor Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reafirmou, numa intervenção no Palácio de Belém, a necessidade da criação desse estatuto, reforçando a posição que defende: “O fundamental é que haja um estatuto para o cuidador informal” em Portugal.”

A desvalorização reiterada dos cuidadores contribui para que se mantenham invisibilizados e o seu reconhecimento social tarde, sendo-lhes sonegados direitos e negadas condições para cuidarem bem dos seus entes queridos e de si próprios.

Faço votos para que em 2019 as pessoas com demência, os seus cuidadores e famílias vejam os seus direitos reconhecidos e sintam que Portugal é, cada vez mais, um país Amigo na Demência.

Desejo a todos um Santo Natal e um excelente Ano Novo.

 

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