Andrew Steele não promete a imortalidade, mas afirma que os fenómenos associados à velhice podem ser contrariados.
Leia o texto de Daniel Vidal, no NIT e retire as suas conclusões:
É possível viver para sempre? A resposta é não. Em lado nenhum, a não ser na saga “Imortais”, é que esse sonho poderá ser possível. Isso não significa que o fim de vida tenha que ser exatamente como o encaramos atualmente.
Parabiose heterocrónica é um palavrão que lhe dirá muito pouco, mas é também o exemplo avançado por Andrew Steele para justificar a sua teoria. O termo científico descreve uma experiência onde dois ratos, um velho e um novo, foram sujeitos a uma cirurgia que liga os seus vasos sanguíneos.
Numa operação digna de um filme de terror, as duas cobaias passam a ser siamesas. Tudo para perceber qual o efeito que esta ligação teria no mais envelhecido. Os resultados foram positivos e, para fugir às complexidades técnicas, pode dizer-se que o rato com mais idade se tornou mais forte e saudável, demonstrando que existe um “poder rejuvenescedor”.
Este é um dos argumentos feitos em “Ageless: The New Science of Getting Older Without Getting Old” (“Eterno: A Nova Ciência de Envelhecer Sem Ficar Velho”, em tradução livre) pelo cientista e autor britânico, doutorado em Física pela Universidade de Oxford e especializado em Biologia.
O cientista transformado em autor não fala em imortalidade, mas sim na forma como a ciência poderá evoluir — com base em descobertas e técnicas atuais — para encontrar formas de combater os fenómenos biológicos do envelhecimento.
Só no nosso planeta, há seres vivos que vivem por cinco minutos, outros que podem chegar aos 400 anos. E a própria evolução da esperança de vida humana indica que o limite que observamos hoje pode ser uma miragem dentro de algumas décadas.
Outro exemplo? As tartarugas das Galápagos que, segundo Steele, envelhecem sem sofrer dos naturais “debilidades de movimento ou dos sentidos” e não exibem sequer “declínio de fertilidade” que seria natural com o avançar da idade.
A tese de Steele é simples: aquilo a que chamamos envelhecer e que hoje é visto como uma inevitabilidade da vida, não passa de uma espécie de doença que pode ser prevenida.
Steele explica que este envelhecimento — a estatística diz que a probabilidade de morrermos duplica a cada oito anos, deixando-nos mais suscetíveis a doenças como cancro, enfartes ou demência — não é mais do que um conjunto de problemas que podem e devem ser resolvidos pela ciência.
“Sabemos hoje que nenhum de nós tem uma espécie de relógio interno programado para nos matar e abrir espaço para os nossos filhos. Pelo contrário, o envelhecimento é uma omissão evolutiva: o resultado de mutações acumuladas que pioram a forma física na idade avançada”, explica.
No livro, o autor explica como funcionam os processos que, gradualmente, vão deteriorando o nosso corpo, em especial a Teoria do Soma descartável — uma evolução que dá prioridade às células reprodutivas, em detrimento das restantes que compõem o nosso corpo.
Resumindo: estas células negligenciadas enfraquecem e provocam todo u tipo de problemas. “Permanecem teimosamente, sem se dividirem — envelhecidas, estas células zombie recusam cometer suicídio”, explica.
Entre outras causas, Steele aponta para a deterioração das teminações de ADN, do enrijecer das artérias, do enfraquecimento do sistema imunitário e de ciclos de falhas em células que por sua vez causam problemas noutras células. Todo um cocktail que só tem um resultado.
Perante este cenário, Steele tem uma visão otimista de que a ciência poderá evoluir de forma a que quem hoje estiver na casa dos trinta, poderá vir a usufruir de diversos tratamentos que irão ampliar a idade média de vida atual.
Segundo Steele, o envelhecimento pode ser parado, embora para que isso aconteça, seja necessário fazer um investimento avultado na investigação científica.
Entre as apostas, o autor aponta para a telomerase, uma enzima que consegue fortalecer as terminações do ADN — embora tenha um efeito secundário potenciador do cancro —, ou para a Metformina, um medicamento usado para a diabetes e que está atualmente ser estudado pela sua capacidade de replicar os efeitos saudáveis do jejum. “Surgirão tratamentos mais avançados como terapias de genes e de células estaminais que poderão ficar disponíveis numa escala de tempo mensurável em décadas”, frisa.
“A primeira geração eterna provavelmente não perceberá a sorte que tem — crescerão a contar morrer apenas aos 100 ou aos 150 ou qualquer que seja o conceito de velhice dessa sociedade, mas uma a seguir à outra, as descobertas da medicina irão adiar os seus funerais cada vez mais para o futuro.”
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