Artigo

Etarismo, uma piada de mau gosto

Etarismo é o preconceito vinculado à idade, contra pessoas mais jovens ou mais velhas.

É tão ou mais antigo que qualquer outro preconceito, como o de cor, o de crença, o social, o de gênero, o das pessoas com deficiência e por aí vai. A diferença é que o Etarismo é dissimulado, vem travestido de piada, brincadeira ou formas mais descontraídas de se dirigir a uma pessoa em casa, no lazer ou no trabalho.

“Mãe, cuidado com esse celular. Você não sabe mexer…”

“E aí coroa, tá com uma gata, hein?”

“Hi cara, você é muito novinho pra esse trabalho”.

“Vovô, deixa que eu envio o e-mail pra você”.

“Pô meu, se você fosse mais experiente a vaga era sua”.

“Sinto muito, mas o senhor é muito velho para esse cargo”.

Todos nós, certamente, já ouvimos algo parecido.

Integeracional não é multigeracional 

Existem dezenas, centenas de exemplos que usam o fator ‘idade’ para excluir, desqualificar ou tripudiar uma pessoa, pelo simples fato de ter mais ou menos idade.

É fato que o preconceito contra pessoas maduras é mais evidente, tanto que existem diversas expressões que o qualificam: idadismo, ageísmo, entre outras. Mas é fato também que pessoas mais velhas têm mais experiência e podem resolver problemas complexos ou mesmo reduzir margens de erro, aspectos que são negligenciados nas relações interpessoais.

Uma confusão, proposital ou não, que emerge nas organizações é a definição do que são ambientes ‘multigeracional’ e ‘intergeracional’. O primeiro nada mais é do que um espaço de trabalho ocupado por pessoas de várias idades, que desempenham tarefas individuais específicas. O segundo é um ambiente de trabalho que reúne pessoas de diversas faixas etárias, socializando e interagindo entre si, em prol de um objetivo profissional comum.

Os movimentos de combate ao preconceito 

Nos últimos anos, por conta de reações da própria sociedade, surgiram muitos movimentos de combate aos preconceitos, em especial os de cor e de gênero.

O movimento LGBTQIA+ é um dos mais ativos, e transformou a Parada Gay numa manifestação de alto impacto, a ponto de tornar-se um evento importante em grandes cidades como São Paulo.

O preconceito de cor, por sua vez, tem um comportamento diferente, pois a reação quase sempre é desencadeada por um fato real, muitas vezes e infelizmente, fatal. Ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, onde a população reage coletivamente contra qualquer injustiça cometida, por aqui não há uma reação coletiva organizada.

Seja por um motivo ou por outro, seja pelo cumprimento das 17 ODS da ONU, seja pelo novo conceito de ESG que está ganhando espaço nas organizações ou por qualquer outra razão, devemos celebrar o despertar para este grave problema.

Na mídia e nas empresas, testemunhamos uma mudança no padrão de comportamento. A diversidade está ganhando espaço, mas ainda estamos muito longe da situação ideal.

Um Guia para combater o etarismo 

No início de 2021, surgiu em São Paulo o movimento de combate ao preconceito etário #AtualizaPorchat!, motivado por uma piada de mau gosto do Fábio Porchat, que ironizava a incompetência da mãe no uso do celular.

Os humoristas fazem uso desse expediente com frequência, sem se dar conta de que referências dissimuladas como estas afetam a autoestima das pessoas, entre outros danos de ordem psicológica e social.

A reação foi imediata nas redes sociais. O movimento, liderado por um grupo de profissionais de várias áreas, com foco na temática da maturidade moderna e da longevidade – eu entre eles – ganhou força e relevância e passou a se chamar, simplesmente, Atualiza.

A publicação de posts e a realização de Lives foi intensificada. Uma delas, muito concorrida, teve como convidado o ator Tony Ramos, que está na ativa aos 73 anos.

O movimento sentiu que não bastava protestar na mídia. Era preciso produzir algo mais tangível, mais eficiente para alertar a sociedade a respeito dos males deste preconceito. Daí nasceu o Guia de Boas Práticas de Combate ao Etarismo, com o apoio da ABA – Associação Brasileira de Anunciantes, cuja cópia em PDF está disponível para baixar no final deste artigo.

O Atualiza segue promovendo Lives e palestras para diversos públicos e prepara versões específicas do guia para segmentos diversos, como comércio, serviços, escolas, condomínios, entre outros.

Recentemente, o Atualiza formalizou uma parceria com o movimento Stop Idadismo de Portugal, para o lançamento do guia naquele país, que tem um perfil etário muito particular. A taxa de natalidade de Portugal é uma das mais baixas da Europa: 1,38 filhos por mulher. Por conta disso, 13% da população tem menos de 15 anos, enquanto acima dos 65 anos o percentual é de 21%.

O maior contingente de portugueses tem 40 anos ou mais. Portanto, o desafio de lidar com o preconceito etário é muito evidente naquele país, que se tornou atrativo para aposentados do Brasil e da Europa.

 

 

Clique, aqui, para fazer o download do guia.

 

 

Ricardo Mucci é jornalista especializado em mídias digitais e mestre em comunicação social. Trabalhou nas TVs Globo, Bandeirantes e Cultura, além do jornal Folha de São Paulo e Revista Manchete. Tem como marca registrada o empreendedorismo e com a chegada da internet, migrou para a área tecnológica, onde vem criando e desenvolvendo inúmeros projetos de comunicação. É arquiteto de inovações, palestrante e influenciador 50+ com canais de comunicação nas mídias sociais.

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