O grupo Orpea enfrenta dificuldades após revelações feitas num livro, que descreve uma gestão na qual os cuidados de higiene e até as refeições dos residentes eram “racionados” em prol do lucro.
O Governo francês anunciou esta terça-feira a abertura de duas investigações administrativas sobre o grupo privado Orpea, proprietário de lares de idosos, que enfrenta dificuldades após revelações feitas num livro sobre a gestão dos seus estabelecimentos.
“Hoje [esta terça-feira], a Inspeção Geral dos Assuntos Sociais (IGAS) está a lançar uma investigação e ainda há outra que será realizada pela Inspeção Geral das Finanças (IGF)”, disse a ministra delegada para a Autonomia das pessoas idosas, Brigitte Bourguignon.
A ministra expressou o seu “desgosto pelas práticas de gestão” da empresa Orpea, após a leitura do livro “Les Fossoyeurs” [Os Coveiros], do jornalista Victor Castanet, que descreve uma gestão na qual os cuidados de higiene, assistência médica e até as refeições dos residentes eram “racionados” em prol dos lucros.
Esta dupla investigação sobre o grupo privado de lares de idosos “é uma estreia” neste setor, que é “uma atividade lucrativa, mas que não deve colocar o lucro acima do bem-estar” das pessoas, acrescentou Bourguignon.
O novo administrador-geral da Orpea, Philippe Charrier, comprometeu-se esta terça-feira a “mostrar toda a verdade sobre estes acontecimentos”, após um encontro com Brigitte Bourguignon.
“Vou até ao fim. Vou mostrar-lhes tudo, estou comprometido com isso”, declarou Charrier.
O administrador-geral da Orpea disse entender “a comoção dos residentes, familiares e colaboradores” em relação às acusações feitas no livro de Victor Castanet.
Charrier assegurou que nem todo o conteúdo do livro de Castanet “corresponde absolutamente à realidade da vida” nos estabelecimentos da Orpea.
“Várias acusações são infundadas, tenho provas formais”, disse ainda o administrador-geral da empresa.
No campo jurídico, a Orpea está sob ameaça de uma ação conjunta de familiares de residentes dos lares de idosos.
O grupo privado, que rejeita as acusações no geral, tentou abafar o escândalo ao demitir no domingo o administrador-geral, Yves Le Masne, que estava à frente da empresa há cerca de 10 anos.
A publicação do livro fez descer o valor das ações da Orpea, cotada na Bolsa de Paris, e suscitou muitas reações de indignação de dirigentes sindicais e políticos.
A Orpea administra uma rede de 354 estabelecimentos em França, que atendem pessoas fragilizadas e com perda de autonomia. O país tem mais de 7.500 lares de idosos e quase 600.000 camas no setor.
No site Grupo Orpea em Portugal, a empresa indica que entrou no país em 2018 e que detém “10 residências, um hospital e uma clínica, num total de 907 camas”.
Fonte: Agência Lusa
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