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IDOSOS… POBRES… IDOSOS

“Maria Júlia Casanova morreu carbonizada num incêndio que deflagrou no seu quarto na casa onde morava sozinha há décadas. (…) A PJ investiga as causas que poderão estar ligadas a um cobertor elétrico.” (Correio da Manhã, 01 de dezembro, de 2018)

Somos, recorrentemente, confrontados com notícias que nos dão nota da morte de mais uma pessoa idosa. Algo que será expectável se atendermos ao ciclo vital, mas inaceitável se a causa não for natural e evitável.

Com a chegada do frio, do rigor do Inverno, sucedem-se os casos de morte de idosos devido a incêndios que deflagram nas suas casas, causados por equipamentos de aquecimento defeituosos ou por intoxicação de monóxido de carbono, expelido por braseiras.

Climatizar uma casa, com as necessárias condições de segurança, não está ao alcance de todas as carteiras. Se a opção recair em equipamentos elétricos, a fatura a pagar não está ao alcance de muitas famílias portuguesas. Portugal ocupa, há vários anos, as posições cimeiras na lista de países europeus que mais paga pela luz.

“De acordo com uma análise feita por Alfredo Marvão Pereira e Rui Manuel Pereira – professores do College of William & Mary – não há como fugir: os agregados com menos meios são os que mais sofrem.” (Jornal i, 29/11/21018)

No caso das famílias mais pobres, o impacto do IVA a 23% na eletricidade é cinco vezes superior ao que é sentido pelas famílias com mais rendimentos.

O inverno é um perigoso inimigo dos idosos, cujo risco de pobreza geral aumentou, de acordo com o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento[i], realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que não têm capacidade financeira para aquecer as suas casas, recorrendo a estratégias perigosas, por vezes letais. Pobres idosos que não têm voz, continuam invisibilizados, numa sociedade “encharcada” em causas fraturantes que polvorizam as redes sociais.

Continuamos com escassas respostas sociais ao problema do envelhecimento e da proteção de idosos, um grupo vulnerável e sujeito a maus-tratos.

Por estranho que possa parecer, aproxima-se a época, o Natal, em que mais idosos são abandonados nos hospitais. Podem já não precisar de cuidados hospitalares, mas ninguém os vai buscar, passando a ser “catalogados” como casos sociais. Permanecem dias, semanas e até meses, numa cama de hospital, porque a família não os recebe e porque não há uma solução social para os acolher. Há casos de abandono puro e duro e outros de incapacidade das famílias em prestarem os cuidados após a alta hospitalar.

“A pior época é sem dúvida a do Natal e a de férias – altura em que muitos idosos são deixados ao abandono à porta dos hospitais, ou inscritos com moradas e números de telefone falsos.” (RTP, 07/05/2019)[1]

[1] https://www.rtp.pt/noticias/pais/portugal-entre-os-paises-com-mais-abandono-de-idosos_v1074336

[i] https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=315156875&DESTAQUESmodo=2

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