A antiga professora de Português que se tornou influencer, modelo e atriz aos 70 anos
Descreve-se como influencer sénior, mas dispensa os unboxings e os códigos de desconto. De sorriso fácil — o seu principal acessório — e com uma energia contagiante, Laura Braz , de 75 anos, destacou-se no mundo digital. As suas publicações conquistam milhares de pessoas pela forma genuína como mostra “que um idoso faz muita coisa” e que tem muito para oferecer.
“Tem de se acabar com a ditadura da juventude, porque as rugas podem marcar presença numa sessão fotográfica”, conta à NiT. “Posso ajudar pessoas da minha idade. E também os jovens para que tenham uma ideia do que é ser idoso. Posso quebrar o estigma que considera que uma mulher mais velha já não pode fazer certas coisas.”
Muito antes dos likes, comentários e partilhas, outros sonhos e desejos a moviam. Antes dos 10 anos, alimentava a necessidade de se expressar — através da interpretação ou dos desfiles — afastada dos olhos de milhares de seguidores. Sozinha, imaginava peças de teatro, com inúmeras personagens e as próprias casas.
Um desses desejos era dar majestosos passos numa passarela, do qual guarda várias recordações: “Por volta dos 13 anos, lembro-me de o meu pai se zangar comigo porque tinha a mania de andar com livros na cabeça, para andar muito direitinha”, explica. E, se atualmente já cumpriu ambos os desejos — fazer teatro e desfilar —, o caminho da realização não foi linear. Na altura, os pais não consentiram que se formasse em teatro.
Uma leitura de um poema que terminou com Laura dentro de um caixote do lixo, fê-la descobrir que gostava de fazer os outros rir — era aluna, mas acabou por passar para o outro lado. Nunca se levou a sério e, durante os 36 anos que foi professora de Língua Portuguesa. passou essa imagem aos seus alunos.
Dentro da sala de aula, a influencer diz que se sentia sempre a fazer teatro. Incapaz de estar sentada, contava com a sua empolgação e os seus gestos para se expressar na sala de aula. Usava canções para ensinar poesia e chegou a arranjar um projeto de teatro, na escola onde lecionava, para os alunos se inscreverem.
“Apenas nos últimos anos da minha carreira como professora é que me envolvi em algumas peças. Foi através de uma escritora [Luísa Monteiro] que achou que, como eu fazia muitas leituras com os alunos, tinha uma veia para o teatro. Convidaram-me para ser a personagem principal e foi um grande êxito”.
A introdução ao digital
Se atualmente Laura tem uma forte presença digital, só depois de se dedicar ao ensino é que começou a explorar as redes sociais. A desorientação com computadores foi colmatada ainda na escola, quando se “assustava a clicar nas teclas”.
No entanto, foi a filha que a incentivou a aderir ao Facebook, na altura a plataforma mais popular. “Ela criou a minha página, pôs a fotografia e eu comecei a meter algumas imagens com dificuldade. Ficava aflita, ligava-lhe em pânico porque metia a fotografia errada”.
Sem se aperceber, começou a juntar um número considerável de seguidores. Não a inquietava e continua a não ser uma preocupação, mas não parou de convencer pessoas a seguir o seu dia a dia. Afinal, é isso que quer mostrar — os seus passeios e os locais onde gosta de estar.
Do Facebook passou para o Instagram, onde obteve o mesmo sucesso. “Nem olhava para os seguidores e, um dia, alguém reparou que eu passei de 700 para milhares. Foi aí que me despertou a atenção para esse público que alcancei”, revela. A sua popularidade catapultou ainda mais com a presença no reality show da TVI “All Together Now”, em 2021, onde foi um dos 100 jurados convidados.
O estilo de Laura Braz
Aos 70 anos, ainda conseguiu estrear-se como modelo, como queria em criança. “Conheci um rapaz chamado José Afonso Brás, que costumava fazer desfiles e que faz moda na Figueira da Foz. Convidou-me e eu gostei imenso de desfilar perante os jovens”, diz. Ao longo dos anos, voltou a repetir a proeza, com várias lojas de noivas a convidá-la para ser modelo.
Apesar disto, o conteúdo de Laura não se foca em moda, mas o seu estilo também sobressai. Fora da passarela, gosta de usar roupas alegres e vistosas, mas simples. Não está preocupada em comprar em lojas de luxo, porém, não resiste a um bom achado.
“Quero sentir-me nova a vestir sem ser ridícula. Não quero vestir-me de acordo com a idade, mas de acordo com a minha forma de ser”, explica, reforçando que aplica esta atitude no mundo da beleza. Usa o seu creme duas vezes ao dia, faz a limpeza habitual e não descarta a vitamina C no rosto, própria para peles envelhecidas. A maquilhagem não costuma fazer parte do seu dia a dia.
A par disto, nunca pintou os seus cabelos brancos. Por volta dos 14 anos, começaram a aparecer as primeiras brancas e a mãe chegou a levá-la ao médico, preocupada. Com 23 anos, já
á a dar aulas, os alunos apelidavam a professora de “madame dos cabelos brancos”. Nunca lhe passou pela cabeça pintá-los e mantém-nos há seis décadas, preocupando-se apenas em mantê-los com um ar saudável.
“É preciso conservá-los branquinhos. Tenho o cuidado de usar um champô próprio e azulado, que tira todo o amarelo dos cabelos. É muito sensível ao sol, água salgada, aos produtos que metemos na cabeça e até ao próprio secador”.
“A ideia que eu quero passar é que [as pessoas] não se deixem envolver pela idade. Há que dar alegria aos nossos dias com cores, saídas e passeios”, conclui. “[Adoro] andar a pé e andar de carro sozinha e não preciso de ninguém. Tenho que dar intensidade à minha vida”.
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