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Kalache pede política para proteção das pessoas idosas contra as mudanças climáticas

Por José Pedro Soares Martins. Longevinews 

Campinas, 14 de novembro de 2025

Uma política consistente para a proteção das pessoas idosas contra as mudanças climáticas no Brasil, sobretudo em relação aos eventos extremos. É o que pede o médico gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional Longevidade Brasil e codiretor do Age Friendly Institute, nos Estados Unidos. Como mostrou o portal Longevinews, os impactos das mudanças do clima nas pessoas idosas não estão em discussão na programação oficial e paralela da COP30, a Conferência do Clima que está acontecendo em Belém (PA) até o dia 20 de novembro.

“Em qualquer situação de emergência, as pessoas idosas são as mais vulneráveis”, observa Kalache, que dirigiu o programa global de envelhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS) entre 1995 e 2008. Ele lembra que, quando estava para sair da OMS, encomendou em 2007 um conjunto de 16 estudos de situações de emergências as mais variadas, como nevascas, tsunamis, terremotos, secas, incêndios florestais, enchentes. Ele comenta:

__ E o que acontece? Cada vez mais essas situações de emergência vão ocorrer em populações envelhecidas. Este século será caracterizado por duas tendências que correm em paralelo. O envelhecimento populacional e o câmbio climático. Então é preciso melhorar a proteção da população, principalmente nos casos mais previsíveis. As populações idosas são as mais vulneráveis, primeiro pelas condições biológicos Com 30, 40 anos, a pessoa aguenta bem uma onda de calor. Depois dos 60, 70, que dirá 80, você não tem mais os mesmos mecanismos de homeostase, de você se ajustar à situação.

Kalache nota que o que o levou a fazer os estudos em 2007 “foi uma onda de calor avassaladora na Europa que matou mais de 40 mil idosos. Foram necessários dias para as autoridades acordarem. O toque de alarme foi das funerárias. Era mês de agosto, pessoal da área da saúde em férias. Bastaria que houvesse uma vigilância, vamos ter uma onda de calor, precisamos mandar agentes comunitários visitar as casas, temos o controle das pessoas idosas, sobretudo das que vivem sozinhas, aquelas que tem comorbidade”.

No verão de 2003, houve mais de 70 mil mortes pela onda de calor em vários países europeus. Na França, segundo o Ministério da Saúde, 80% tinham mais que 75 anos. Novas ondas de calor foram registradas recentemente na Europa, com o mesmo impacto. Foram 67.900 em 2022, 50.800 em 2023 e 62 mil em 2024, em sua grande parte de idosos, de acordo com estudo publicado na Nature Medicine. O estudo estimou que a mortalidade entre as pessoas com mais de 75 anos foi de 323% maior do que em outras faixas etárias.

“Temos igual no SUS, esse mapeamento (da população idosa) está praticamente feita em todo território nacional”, observa Alexandre Kalache. “É inadmissível que não temos uma política para proteger essa população tão vulnerável”, ele acrescenta. Mas Kalache também assinala que “as pessoas idosas não são apenas as mais vulneráveis. Elas também são mais resilientes. Elas conseguem trazer a população unida. Observei isso em um dos estudos em campos de refugiados, onde as outras pessoas adultas estavam desesperadas e as pessoas idosas, poucas que fossem, mantinham um fio de esperança, conseguiam vir uma luz no fim do túnel. Elas já tinham passado por muitas”, comenta o gerontólogo, principal referência no Brasil em questões de envelhecimento e saúde.

Alexandre Kalache nota que muitas pessoas idosas perderam as vidas e outras as suas casas nas enchentes que ocorreram em Teresópolis e outras cidades da zona serrana do Rio de Janeiro, em 2011. Para ele, o que ocorreu na época “sumariza a tragédia de você não ter segurança e proteção, que são os elementos fundamentais para você ter um envelhecimento ativo, centrado nos eixos de saúde, de aprendizado ao longo da vida, de ter direitos de participar plenamente na sociedade e dos eixos segurança e proteção. Isso não consegue constrói sozinho, precisa da sociedade, do Estado, de políticas de Estado, para a proteção da população idosa que só faz crescer, com todas as suas limitações, medos, receios. Nós envelhecemos antes de sermos ricos como país, ao contrário do que ocorreu nos países desenvolvidos, que cresceram antes de envelhecer. Não está nada fácil”, conclui.

Alexandre Kalache, maior referência em envelhecimento no Brasil, médico e gerontólogo lançou, recentemente, o livro Revolução da Longevidade.

 

SINOPSE

Vivemos mais do que nunca. Mas estamos preparados para isso? Neste livro poderoso e necessário, o médico brasileiro Alexandre Kalache, uma das maiores referências mundiais em envelhecimento, mostra como a revolução da longevidade já está transformando o Brasil. Com histórias pessoais, dados surpreendentes e uma escrita envolvente, ele revela por que nosso país envelhece mais rápido e de forma mais desigual que os países ricos, e como isso afeta cada um de nós. Entre memórias de Copacabana, experiências na Organização Mundial de Saúde (OMS) e no ILC Brasil, e reflexões sobre saúde, aprendizado, participação e segurança, Kalache propõe uma visão inspiradora: envelhecer pode ser conquista e não fardo, desde que enfrentemos o idadismo e as desigualdades. Mais que um livro sobre envelhecer, esta é uma obra sobre viver bem em todas as fases. Um convite para jovens e adultos refletirem e agirem agora, garantindo não apenas anos à vida, mas vida aos anos.

‘Sempre digo aos mais jovens que lutamos contra o idadismo não apenas por nós, mas por eles’, diz Alexandre Kalache

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