Artigo

LARES COMO FACTOR DE RISCO

Diz-nos o senso comum que, desde que se encontrem garantidas as condições mínimas de autonomia e segurança, as pessoas sentem-se melhor nos seus domicílios.
Considero que a institucionalização em lar residencial deve ser encarada como a última opção a ponderar, estejamos a falar de uma criança, de um jovem, de um idoso ou de uma pessoa com incapacidade física ou mental.
Obviamente, cada caso é um caso e, exatamente por isso, devem ser sempre ponderados os prós e contras de uma tomada de decisão que desenraíze uma pessoa com a inevitável despersonalização.
Reconheço que tem sido feito algum esforço para melhorar as respostas dadas pelos lares residenciais, mas há muito a fazer no que concerne ao modelo de cuidados.
Infelizmente, em muitos equipamentos sociais, o modelo vigente ainda é o de instituição total, quando o modelo desejável deveria basear-se na atenção centrada na pessoa, contribuído para a promoção do envelhecimento ativo, sustentado na otimização das oportunidades de saúde, segurança, participação e aprendizagem ao longo da vida.
Os dados preliminares de um estudo realizado na Região Norte de Portugal, financiado pela Direção Geral de Saúde, referem que a percentagem de idosos que vivem em lares e que sofrem de demências graves é o dobro da encontrada entre os que vivem na comunidade:
“A percentagem de demências graves em pessoas na comunidade é de 7,8%, valor que se duplica relativamente aos residentes em lar, 15,7%.”
Estes dados, de acordo com o psiquiatra Álvaro de Carvalho, coordenador do Programa Nacional para a Saúde Mental, estão em linha com os indicadores internacionais:
“O que se sabe internacionalmente é que as pessoas institucionalizas correm maior risco de sofrer demência.”
A falta de estimulação das pessoas, que se encontram institucionalizadas em lares, contribui fortemente para que estes sejam considerados como factores de risco da demência.
Infelizmente, muitos lares oferecem poucas atividades aos seus utilizadores e não se preocupam com os gostos pessoais de cada pessoa, com as suas histórias e projetos de vida. Em muitas situações não está em causa mais investimento financeiro, mas, isso sim, um novo paradigma de cuidados.
Nada me move contra os lares, mas sou apologista da prestação de cuidados no domicílio que vão, obviamente, muito para lá do habitual serviço de apoio domiciliário.
Fiquei, sinceramente, satisfeito quando li a entrevista do Ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, porque o governante pondera estabelecer incentivos à condição de cuidador informal:
“Podem ser incentivos de natureza fiscal. É ilusório pensar que se resolve o problema da dependência com a institucionalização, muitas vezes não é desejável.” (Expresso, 19 de março, de 2016)
JOSÉ CARREIRA
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