A Envelhecer entrevistou Tó Romano, de 57 anos, Diretor da Central Models, há 27 anos a criar e a realizar sonhos. 

 

– Em 2050, Portugal será o 4.º país mais envelhecido do mundo. Como observa esta realidade alguém que trabalha, essencialmente, com gente jovem?

TÓ ROMANO- O trabalhar com gente jovem é sempre um privilégio, fazendo jus ao provérbio “junta-te aos bons e serás como eles”, quem sabe se reside aqui uma boa resposta para nos sentirmos “eternamente” jovens? Pela minha experiência, acredito que sim!

A previsão de que em 2050 Portugal será o 4º país mais envelhecido do mundo preocupa-me, obviamente, e já no presente!

Na primavera de 2017 fui confrontado com essa realidade, ao constatar num evento do Florir Portugal na aldeia do xisto de Figueira (que havia ardido nos incêndios em Proença-a-Nova em 2016), que aí a população residente eram 21 pessoas, cuja média de idades era de 83 anos!

Uma aldeia só com avós e bisavós, sem pais, filhos ou netos, sem uma única criança… uma aldeia com todos os problemas habituais relacionados com a Interioridade do país mas principalmente com a da solidão dos idosos…

Não podemos de todo fechar os olhos a estas situações do presente e continuarmos a pensar “com o mal dos outros podemos nós bem”… Mais do que os problemas económicos, que se adivinham para 2050 com o envelhecimento da população, compete-nos a todos nós e no presente descobrirmos novos caminhos para nos relacionarmos e relativizarmos em moldes diferentes, que nos levem a privilegiar o bem comum em detrimento do beneficio individual.

– Que estratégias adota a indústria da moda face ao crescente envelhecimento da população?

TÓ ROMANO- Os campos da Moda e a Publicidade fazem por estar atentos e são sempre um reflexo de todas as mudanças sociológicas que assistimos no mundo.

A Moda vai ainda mais longe, em exercícios criativos, tentando prever ou antecipar o que vai acontecer.

Ao longo do séc. XX assistimos à esperança média de vida subir de 60 para 80 anos.

O efeito George Clooney, em que a sua imagem é enaltecida e promovida carismáticamente como ícone de beleza masculina, inclusive como sex symbol, vem na sequência do crescente envelhecimento da população; cria o efeito e molda no subconsciente das pessoas com 50, 60 ou 70 anos uma razão para se sentirem bem e em harmonia consigo próprias e com a sua idade.

De repente, o cabelo grisalho elogia-se, virou moda e motivo de referência, cujo melhor exemplo nacional seja o José Mourinho.

– Ao pesquisarmos no site da Central Models, no segmento Real People vemos homens e mulheres com idades acima do habitual. Pode explicar-nos as razões para esta aposta?

TÓ ROMANO-  Partindo do principio que será uma má ideia abrir uma empresa para tentar vender areia em Marrocos  🙂 , uma agência de modelos deve ter sempre em presença aquilo que o mercado publicitário procura.

Na última década do século passado, todos os Ideais serviam de motivo criativo à estratégia de venda de produtos, como por exemplo o da Beleza: uma marca automóvel contratava a Claudia Schiffer e todas as mulheres se sentiam “tentadas” a sentirem-se como ela, desejando adquirir a viatura.

Depois veio o 11 de Setembro e o início de todas as crises e receios que marcam determinantemente este século: na publicidade oculta-se o super luxo (momentaneamente) e desaparecem os Ideais como motivo criativo para “fazer vender”, já bastavam os problemas de stress generalizado em crescendo, havia que encontrar novas fórmulas que fizessem aliviar pressão e tensão nas pessoas, como não conseguir atingir satisfação através de Ideais a maior parte das vezes inatingível.

É esse o processo que leva ao desaparecimento da geração das mais de 50 Top Models mundialmente reconhecidas na década de 90 para assistirmos praticamente a uma só referência mundial, a brasileira Gisele Bundchen.

A Publicidade passou então a focar-se no Real People, fazendo com que o consumidor se reveja e se identifique nas imagens e mensagens publicitárias. É esta a razão do aparecimento do departamento Real People na Central.

– A Central Models pretende criar e ajudar a realizar sonhos. É possível concretizarem este objetivo em qualquer idade?

TÓ ROMANO-  “O Sonho Comanda a Vida” é um lema que sigo e faço por ter sempre, em mim e junto dos que me rodeiam. O mais importante dos Sonhos é que nos fazem criar objectivos e estes auxiliam-nos a termos sempre em presença um sentido para a vida. Ajudamos a criar objectivos, fazemos por transmitir energia positiva, confiança e elevar a auto estima a cada um. Assim, todos os sonhos se tornam possíveis de se concretizarem, e em qualquer idade. O importante é sonhar, sonhar sempre!

Fundei a Central Models há 28 anos com o sonho principal de conseguir fazer chegar uma jovem portuguesa ao estatuto de Top Model (modelo reconhecida mundialmente). Esse sonho cumpriu-se com o “aparecimento de um anjo”, a Sara Sampaio.

Missão cumprida, fim de vida? Nem pensar, alimento agora outro sonho, daqueles que não nos deixam dormir por transportarem em si a essência dos sonhos bons (Fé, Esperança, o Bem Comum e o Amor) que é o Eva Dream Florir Portugal. Se é possível concretizá-lo? Não sei, muitos dizem ser impossível, mas eu acredito ser possível e se não o tentar é que não se concretiza mesmo. E se não conseguir? Terei pelo menos deixado a semente…

 – Faz sentido criar, em Portugal, uma agência de moda especializada na terceira idade, como por exemplo a agência russa OLDUSHKA?

TÓ ROMANO- Penso que não. A dimensão do mercado português e o volume de trabalho são pequenos, a Publicidade portuguesa está bem servida pelo bom serviço que o conjunto das agências de modelos lhe servem.

– Como vive o seu envelhecimento?

 TÓ ROMANO- Feliz com a minha família, em serenidade comigo próprio, a desejar o Bem comum, mas inconformado com todo o Mal no que observo e sinto no mundo…