Há dois meses da eleição e os candidatos insistem em negligenciar um tema dos mais importantes para o país: o futuro da população idosa. E o mais curioso é que dos quatro postulantes mais bem colocados nas pesquisas, três deles têm mais de 60 anos: Lula: 76, Bolsonaro: 67 e Ciro: 64. Simone Tebet é a mais jovem, com 52.
O envelhecimento acelerado da população é um fato. O fenômeno é classificado pela Organização Mundial da Saúde como um dos principais desafios que as nações têm pela frente neste século. Porém, aqui no Brasil os candidatos simplesmente ignoram o tema, por desconhecimento ou por considerá-lo não prioritário. Triste constatar também que o debate aos cargos majoritários nos estados segue a mesma cartilha. O que reforça a tese de que o país não está preparado para enfrentar o problema de frente e o mais grave: alimenta o desrespeito a a mais 35 milhões de brasileiros.
Onde estão os idosos?
Vários movimentos atuantes nas redes sociais como o Atualiza, o Velhices Cidadãs, o Envelhecer com Estilo, o Portal do Envelhecimento, o Aging 2.0, o Stop Idadismo de Portugal, entre outros, publicam regularmente informações sobre a realidade da população idosa, destacando os impactos que a crise econômica, a exclusão social e digital, o preconceito etário e a falta de políticas públicas provocam na vida de cada um deles.
Ainda que as pesquisas oficiais estejam defasadas, um sistema de avaliação desenvolvido pela empresa Senior Lab baseado em dados do IBGE indica que o país ganha um 50+ a cada 21 segundos e um 60+ a cada 28 segundos, o que confirma a tese do envelhecimento acelerado da população. Este cenário é afetado também por outros fatores como a elevação da expectativa de vida – que já se aproxima dos 80 anos – e a redução da taxa de natalidade.
As famílias modernas têm poucos filhos e muitos pets.
Esta realidade tem outros desdobramentos, um deles é a exclusão digital que afeta a milhões de idosos de classes sociais menos favorecidas, que têm pouca ou nenhuma intimidade com o funcionamento de computadores e celulares. Este desconhecimento os afasta de uma necessidade imposta pela pandemia, que é a realização de tarefas pessoais, profissionais e de lazer através de dispositivos digitais. Em consequência, o acesso à informação qualificada também é comprometido, tornando-os reféns de uma ignorância que se perpetua e que alimenta a exclusão social. E todos sabemos que o domínio e o acesso aos meios digitais é que nos permite tomar melhores decisões sobre o presente e o futuro que queremos construir para a sociedade.
Em paralelo a exclusão digital e social está a econômica, uma vez que viver mais custa mais para todos. O valor da aposentadoria tem se mostrado insuficiente para o sustento do idoso e sua família. 65% deles ganham um salário mínimo, ou seja: a conta não fecha no final do mês. E tem mais. Apesar de tais limitações, mais de 10 milhões são provedores principais da renda familiar. A filha que casa, engravida e separa volta a morar com a mãe. O filho que fica desempregado volta a morar com o pai. Este cenário confirma o velho ditado de que “um pai cria 10 filhos, mas 10 filhos não cuidam de um pai”.
Não há culpados nem heróis nesta fotografia.
Há sim a constatação de que a realidade é injusta para com os idosos, que precisam de emprego e renda para seu sustento e, em muitos casos, o sustento da própria família. E milhões de outros reivindicam o suporte do poder público para enfrentar a velhice com dignidade, pois contribuíram para ter este direito. Leis existem, mas não são cumpridas, infelizmente.
Senhores candidatos,
Procurem se informar a respeito deste tema. Tenho absoluta convicção de que muitos estudiosos e especialistas terão o maior prazer em ensinar e contribuir na elaboração de ações e políticas públicas a altura do desafio que o país tem pela frente. Lembrando que seremos um país idoso muito em breve e isso acontece quando a população de 60 anos ou mais supera a de jovens até 15 anos. Vocês são o maior exemplo de que os experientes tem muitas competências que devem ser valorizadas, mas como candidatos precisam prestar mais atenção em milhões de brasileiros, que exigem respeito e a oportunidade de provar que podem ajudar o Brasil a crescer com igualdade e justiça social.
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