O aumento continuado do número de casos de pessoas com demência no mundo, três novos casos a cada três segundos, levou a que esta doença fosse considerada uma pandemia silenciosa, num mundo cada vez mais grisalho. Viver com demência e cuidar de uma pessoa com demência é muitíssimo exigente. A pandemia do novo coronavírus é especialmente castigadora para as pessoas mais velhas. Quando as pessoas já têm uma idade avançada e padecem de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer ou outras demências, são especialmente vulneráveis à pandemia provocada pelo Covid-19.
No artigo “Dementia care during Covid-19”, publicado na revista The Lancet[1], os autores consideram que é muito mais provável que as pessoas com demência possam contrair a doença porque têm um acesso muito limitado à informação verídica sobre a pandemia, podem revelar dificuldades em compreender a mensagem e em recordar as medidas de prevenção e segurança para evitar o contágio (a importância de usar máscara, lavagem das mãos…).
José Luís Molinuevo, um dos autores do artigo, diretor do Programa de Alzheimer do Barcelonaβeta Brain Research Center[2], do Centro de Investigação da Fundação Pasqual Maragall[3], informa que uma das manifestações clínicas da infeção por Covid-19, nas pessoas com demência, é o delírio, uma consequência da hipoxia. Deste facto, resulta o aumento do sofrimento das pessoas com demência e dos seus cuidadores; o incremento do custo dos cuidados médicos e a necessidade de apoios adicionais.
As pessoas com demência, mais vulneráveis ao novo coronavírus, são também fortemente afetadas pela alteração das suas importantes rotinas: sair à rua para passear, conviver com familiares, vizinhos e amigos, frequentar o centro de dia…
No caso das pessoas que estão institucionalizadas, a restrição das visitas familiares tem consequências muito negativas. O isolamento social é especialmente nefasto para estas pessoas.
É fundamental e urgente o apoio às pessoas com demência e aos seus cuidadores, de modo a protegê-las da pandemia por Covid-19, fornecendo-lhes apoio psicossocial.
As pessoas com demência, as suas famílias e os seus cuidadores enfrentam uma situação complexa e nova para a qual é necessário encontrar apoios de modo a mitigar as dificuldades.
Não fosse o dia 01 de abril conhecido como o dia das mentiras ou dos enganos, e, talvez, já estivessem no terreno os anunciados 30 projetos-piloto de apoio ao cuidador informal. Projetos-piloto que não arrancaram e dos quais não conhecemos os critérios que originaram a escolha dos concelhos selecionados para que fossem testados, recordo o leitor, a partir do dia 01 de abril de 2020.
Questões que gostaria de ver respondidas:
- Quando serão divulgados os Planos Regionais para as Demências? Planos que ficaram a cargo das Administrações Regionais de Saúde que, no espaço de um ano, teriam de desenvolver medidas adaptadas às especificidades da região em que atuam, e articulá-las com o Plano Nacional de Saúde e o Plano Nacional de Saúde Mental? NOTA IMPORTANTE: no dia 19 de junho de 2020 assinalar-se-ão dois anos após a publicação do Despacho n.º 5988/2018[4] (Diário da República n.º 116/2018, Série II de 2018-06-19.
- Quando será publicada a 3.ª Portaria que falta para a regulamentação do estatuto do cuidador?
- Os cuidadores informais poderão, como está previsto, requerer essa classificação ao Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social a partir do dia 01 de julho de 2020?
[1] https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)30755-8/fulltext