Todos os anos somos confrontados com o aumento de pessoas idosas a viverem sós, estando também, em grande número, isoladas. No âmbito da Operação Censos 2021, a GNR sinalizou, em outubro, mais de 44 mil pessoas idosas a viverem sozinhas ou isoladas. Um número superior ao dos anos anteriores e que afeta mais os territórios do interior do país, como os distritos de Vila Real (5191 idosos sinalizados), Guarda (5012) e Viseu (3543) à cabeça.
Vivemos num país com dois milhões de pobres, mais de um milhão sem médico de família, 23% de desemprego jovem e a terceira maior dívida da União Europeia, com o Serviço Nacional de Saúde sob ameaça de colapso, o salário mínimo, cada vez mais, a “morder os calcanhares” do salário médio e com a inflação que contribuirá para degradar o já débil poder de compra das portuguesas e dos portugueses. São muitas as preocupações que requerem soluções e decisões políticas que estanquem a possibilidade de se instalar uma realidade comatosa que ninguém deseja e que contribuirá para o exacerbar de radicalismos perigosos que têm vindo a fazer o seu caminho.
Vive-se, por estes dias, a luta pelo poder interno dos partidos à qual se sucederá a disputa pelo poder da governação do país. “Não tem sido bonita a festa, pá!”.
Desejo que, quando arrancar a campanha para as eleições legislativas, sejam criadas as condições para o debate que, verdadeiramente, interessa aos cidadãos. Este é o meu anseio, pelo bem comum, pela comunidade e por cada um de nós que resiste, persiste e insiste na viabilização de um país que pode proporcionar melhores condições de vida aos seus “filhos” e aos que decidem vir para cá viver. Devemos acolher bem, quem vem por bem, certamente a maioria, até como solução para as baixas taxas de natalidade que colocam em risco a substituição das gerações.
Tendo como mote a solidão e o isolamento não desejados das pessoas idosas, nunca é demais recordar que um dos assuntos mais relevantes para o futuro do país é a LONGEVIDADE.
Portugal é um dos países mais envelhecidos do mundo. Este tema quase não foi objeto do debate político, na recente disputa autárquica, e parece arredado da agenda mediática. Vamos vendo, aqui e acolá, alguns projetos, que merecem os nossos vigorosos aplausos, mas que não passam de “pensos rápidos” que não se compadecem com a necessidade urgente de gerar consensos alargados e de ação política que garanta o bem-estar e o acesso aos serviços deste grupo que cresce rapidamente. O envelhecimento ativo e saudável e a aprendizagem ao longo da vida devem ser assumidos como conceitos-chave na definição das políticas públicas.
A pandemia teve um forte impacto na população idosa, aos mais diversos níveis, com consequências graves na sua qualidade de vida. Esta constatação levou a que Assembleia da República publicasse a Resolução N.º 146/2021 que “Recomenda ao Governo a adoção de medidas de promoção do envelhecimento ativo e saudável e de proteção da população idosa no contexto da pandemia da doença COVID-19”. São 12 recomendações que devem ser atendidas e não esquecidas como parece estar a ocorrer com a proposta de Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável, criada pelo Despacho n.º 12427/2016, de 17 de outubro. Curiosamente, as duas primeiras recomendações visam precisamente a atualização, aprovação e publicação da Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável.
Faz sentido, num país que tem uma vigorosa e inexorável transição demográfica em curso, equacionar uma política da longevidade que robusteça as políticas de envelhecimento ativo e saudável; adote um enfoque do envelhecimento ativo baseado em direitos; aumente a consciencialização dos benefícios individuais, sociais e económicos que resultam do envelhecimento ativo; preconize a flexibilização da transição da vida ativa para a reforma; melhore as condições económicas, incentive a aprendizagem ao longo da vida, diminua a brecha digital entre gerações, elimine as desigualdades sociais geracionais, os preconceitos e a discriminação, #StopIdadismo!
Estas políticas devem envolver os diversos setores – saúde, social, educação, turismo, economia (…) – e, absolutamente fundamental, as verdadeiras protagonistas, as pessoas idosas.
Segundo o Eurostat, Portugal registou uma percentagem de 22,1% de pessoas com mais de 65 anos em 2020, um número muito considerável.
Faço um duplo repto:
– Portuguesas e portugueses que integram este grupo, não se deixem invisibilizar, façam ouvir as vossas vozes e não abdiquem dos vossos direitos, projetos de vida e cidadania ativa.
– Aos nossos futuros governantes, não ignorem estas pessoas que são os nossos pais e avós. Todos nós envelhecemos e queremos envelhecer com qualidade de vida.
Filho és, pai serás. Como fizeres, assim acharás!
“Em Portugal, os idosos são dos que mais sofrem com o abandono e a solidão. Largados em lares e esquecidos pelos filhos, nem o Estado parece preocupar-se com esta facha especialmente vulnerável da população. As cidades, as famílias e as estruturas de saúde esquecem-se sistematicamente daqueles que já não são produtivos.” (LIVRES E IGUAIS, RTP)
José Carreira
Comentários recentes