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Precisamos avançar na inserção de idosos em ações de aprendizagem continuada

População idosa é sub-representada em programas de educação para adultos

Pessoas de todas as idades (incluindo os idosos) devem ter a oportunidade de aprender de maneira continuada. Contudo, ainda prevalece a visão de que a aprendizagem é algo temporário, restrita a um período específico da vida, geralmente o dos estudos formais e limitado aos mais jovens.

Não à toa, perguntamos aos jovens estudantes: “O que você aprendeu na aula hoje?”. Mas não perguntamos, por exemplo, o que eles aprenderam em uma viagem ou no trabalho.

Tais perguntas são ainda menos frequentes aos nossos cidadãos seniores, o que demonstra a necessidade de incorporar, tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional, o elemento contínuo da aprendizagem em nossas vidas.

De acordo com o quarto Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos (Grale 4, na sigla em inglês), da Unesco, lançado em 2019, em quase um terço dos países, menos de 5% dos adultos participam de programas de aprendizagem.

Os idosos estão particularmente sub-representados nos programas de educação de adultos e, com frequência, encontram-se privados de acesso a oportunidades de aprendizagem. Precisamos avançar muito na inserção do público idoso em ações de aprendizagem continuada.

Já há um entendimento claro de que a aprendizagem ao longo da vida é um dos elementos estruturantes do envelhecimento ativo. O Marco Político do Envelhecimento Ativo, lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2002, inclui em sua definição o pilar do aprendizado ao longo da vida. Portanto, não podemos falar em envelhecer com qualidade sem falar em aprender continuamente.

Os benefícios incluem oportunidades para aprender sobre eles mesmos; para garantir um nível mais alto de saúde; para ter acesso a iniciativas mais amplas a fim de participar integralmente da sociedade; e para adquirir conhecimentos com o objetivo de ter plena vivência da cidadania.

Importante também frisar que aprender de forma contínua é elemento central para a competitividade dos países que estão vendo a longevidade da sua população crescer de modo sem precedentes.

Com aposentadorias tardias, os trabalhadores idosos precisam de mais oportunidades para continuar trabalhando, o que implica ter acesso a aprendizagem continuada voltada à aquisição de habilidades que caminhem junto com o ambiente profissional acelerado e dinâmico em que nos encontramos.

Caso contrário, corremos o risco de ter idosos a fim de continuarem ativos no mercado de trabalho com competências desatualizadas, deixando-os com poucas chances de encontrar e/ou manter um emprego —o que também representa uma perda econômica para seus países.

Tenhamos em mente que a velhice não pode se tornar um impedimento ao ato de aprender. Envelhecer e seguir aprendendo se complementam e devem caminhar juntos. À medida que envelhecemos e acumulamos repertório, aprender de maneira continuada torna-se essencial para uma longevidade ativa, com qualidade.

 

Daniela Vieira

Professora do depto. de administração da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), analista de políticas do Instituto Internacional para Educação Superior da Unesco e coordenadora da área de aprendizagem ao longo da vida do Centro Internacional da Longevidade (ILC) no Brasil.

 

FOTO DE CAPA: A professora aposentada Auzinda Americo da Silva, 90, toca guitarra em sua casa, na cidade de Porto Ferreira, a 230 km da capital paulista – Gabo Morales – 17.fev.2011/Folhapress

 

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