Artigo

Tem medo de envelhecer?

Medo, medo, medo… tanto medo de envelhecer…

Na nossa sociedade muitos vivem uma verdadeira Gerontofobia (aversão ou medo patológico de pessoas idosas ou do processo de envelhecimento), o que promove o distanciamento das pessoas de mais idade, receando não propriamente o efeito de contágio de alguma ruga ou dorzita, mas sobretudo o medo de se confrontarem consigo próprias, com possíveis limitações e com a inevitabilidade da existência de alterações e mudanças que esta fase da vida vai acarretar para cada indivíduo.

Vale a pena embarcar numa aventura de conhecimento sobre a chegada à velhice, pois não há pior medo do que aquele que advém do desconhecido ou, então, dos falaciosos mitos, preconceitos e estereótipos que a sociedade foi implicitamente construindo ao longo dos anos sobre um fenómeno relativamente recente: esperança média de vida com tamanha longevidade.

Ainda que o envelhecimento seja algo universal e irreversível, não podemos esquecer que este é um Processo Dinâmico (gradual/progressivo – há muitas variáveis que para ele concorrem) e sobretudo, Individual (cada um vai vivenciar a sua própria experiência de envelhecer).

Nesta caminhada (em especial a partir da sexta década de vida), cada pessoa começa a notar em si um conjunto de mudanças mais significativas que podem ser:

  • Físicas, biológicas, morfológicas, bioquímicas: modificações no organismo e no seu funcionamento que propiciam a alterações na aparência, sentidos menos apurados, músculos e ossos mais frágeis, mobilidade reduzida, enfraquecimento dos órgãos internos e dos sistemas endócrino e imunitário, gerando propensão para o surgimento de patologias;
  • Psicológicas e cognitivas: declínio normativo das funções cognitivas (memória de curto prazo, funções executivas, velocidade de processamento da informação – raciocínios que necessitam de mais tempo, etc.), possibilidade de aparecimento de doença mental (em especial a depressão – muito associada à dificuldade da pessoa integrar as suas experiências de vida agora que o final parece mais próximo, ou devido à solidão), e medo da morte;
  • Sociais: entrada na reforma e a consequente mudança na sua rede de contactos (que por norma fica mais restrita às pessoas que são mais significativas afetivamente) e no seu papel social, perda do cônjuge ou de outros entes queridos (que por sua vez propicia também fenómenos como a solidão e o isolamento), surgimento da dependência da ajuda de outrem para suprir as suas necessidades devido a limitações originadas, geralmente, por estados clínicos; possibilidade de realizar atividades e cumprir sonhos que até então não teve oportunidade de fazer.

Todavia, se passamos a vida numa contínua mudança da nossa forma de estar e ser porque o contexto a isso nos obriga (mudanças de emprego, novas práticas de trabalho, novas localizações geográficas, modificações do núcleo familiar, alterações nos nossos gostos e perspetivas, etc.), porque será tão difícil mudar a nossa forma de estar em função das alterações introduzidas na velhice? Ainda há tantos anos para viver… O que importa é viver bem cada dia para se sentir a satisfação perante a vida.

Experimente deixar de lado alguns destes mitos relacionadas com as pessoas idosas:

  • Improdutivos/gastadores/inúteis: podem realizar imensas atividades – voluntariado, agricultura/jardinagem, turismo, cuidar de familiares…;
  • Inatividade: qualquer pessoa em qualquer idade pode ter ocupações e atividades desde que o deseje e que estas promovam a sua realização e a motivação;
  • Doentes e frágeis: nem todas as pessoas idosas têm doenças ou fragilidades incapacitantes da sua funcionalidade;
  • Morte: até lá há tanto para viver…
  • Senis/esquecidos: o declínio cognitivo normativo, por si só, não acarreta perda de autonomia nem de independência (a maioria das pessoas idosas vive nas suas casas e sem assistência);
  • Não consegue aprender: ao seu ritmo, cada um aprende o que quiser (quantos aos 80 aprendem a mexer no tablet? “ a necessidade aguça o engenho”);
  • Perda de autonomia: mesmo com muitas fragilidades físicas, as pessoas idosas continuam a manter a capacidade e o poder de decisão sobre a sua vida e devem ser incentivadas a dar continuação ao seu próprio projeto existencial;
  • Pobreza: há pessoas idosas em todos os estratos sociais;
  • Assexuados: a sexualidade e a afetividades são necessidades psicossociais do ser humano ao longo de todo o ciclo de vida;
  • Crise de identidade: sabem perfeitamente quem são e o que querem, assim a sociedade os deixe ser;
  • Rigidez de carácter/trato difícil: os traços de personalidade acentuam-se à medida que se vive, mas nem todas as pessoas são rígidas por natureza ou difíceis de lidar;
  • Religiosidade: à medida que envelhece, o ser humano torna-se mais espiritual, o que não é sinónimo de ter de praticar uma religião;
  • Isolamento, solidão, alienação: continuam a ter a possibilidade de socializar, de criar novas amizades, novas redes de contacto (para isso precisam de se sentir aceites e incluídas);
  • Cansaço / lentidão: temos de continuar a viver em “contra-relógio”?
  • Sabedoria: o grau de sabedoria que as pessoas desenvolvem ao longo da vida, depende da experiência de vida de cada uma.

O embarcar no desconhecimento e neste medo, para além de outros, pode acarretar fenómenos como o Ageism ou Idadismo (a terceira grande força discriminatória que a humanidade incrementa aos seus membros apenas por terem uma maior longevidade), ou o Abuso contra as pessoas idosas, a quem muitas vezes as necessidades não são asseguradas por negligência passiva (a falta dos tais conhecimentos para cuidar bem).

Se leu este artigo, passe a mensagem aos seus próximos, para que se esclareçam e apaguem o estigma associado unicamente à idade e se promova a INCLUSÃO daqueles que trabalharam e se esforçaram tanto para que hoje tenhamos este patamar de desenvolvimento e melhores condições de vida!

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