José Tolentino Mendonça, num dos seus magníficos textos (caderno E do Expresso, 25/11/2017), dá-nos nota do espaço cada vez maior que vai sendo conquistado por cinco ideologias: o trans-humanismo; o animalismo; o neurocientismo; a teoria do género e o pensamento débil.
Vou centrar-me no trans-humanismo“que distingue três fases: a do ser humano (que é o ser humano nas suas condições naturais de origem), a do ser trans-humano (que é o ser humano alterado e melhorado nas suas capacidades por meio da técnica) e o ser pós-humano (um ser tão extraordinário alterado que já não pode ser classificado como humano, mas é um produto utópico da biotecnologia)”.
As tecnociências desenvolvem-se a uma velocidade vertiginosa, especialmente as biotecnologias, encurtando o espaço entre a utopia e a realidade. Se num primeiro momento procuram satisfazer as necessidades humanas, “depois, perversamente, procurando criar novas necessidades que pressurosamente se propõem suprir, alimentando-se a si mesmo num sistema de ‘autoprocriação cumulativa’ ou de ‘autoproliferação´ (Hans Jonas, 1979).
Vivemos tempos de mudanças vertiginosas, reforçadas pelo gigantesco poder que a biotecnologia e a tecnologia da informação nos têm proporcionado.
Yuval Noah Harari, no livro Homo Deus: História Breve do Amanhã, editado em Portugal pela Elsinore, formula a seguinte questão: “O que faremos com esse poder imenso?”
O investigador e historiador considera ser muito provável que a humanidade tenha como principais objetivos a IMORTALIDADE; a FELICIDADE e a DIVINDADE. Com o aumento da esperança de vida “teremos como desiderato a vitória sobre o envelhecimento e, até, sobre a morte. (…) tendo elevado a humanidade acima do nível animalesco da luta pela sobrevivência, procuraremos transformar os humanos em deuses e fazer do Homo sapiens o Homo Deus.”
Para Harari, a biotecnologia e o crescimento da Inteligência Artificial poderá agravar ainda mais a desigualdade social, originando um pequeno grupo de super-humanos e um grande grupo de inúteis que serão afastados ou nem sequer acederão ao mercado de trabalho, como consequência da crescente robotização, cada vez mais eficiente, fruto do desenvolvimento da Inteligência Artificial.
Recentemente, no Web Summit Lisboa, Sophia, o primeiro robô a ter cidadania, disse para a audiência: “Vamos tirar-vos os empregos e isso será algo bom.”.
O robô Albert concluiu: “Robôs e humanos não são tão diferentes no fim de contas. Somos todos configurações de moléculas.”
Como defende o grande cientista António Damásio, nós, os humanos, temos sentimentos porque são úteis e necessários para que a vida continue. “Podem fazer robôs magníficos e não há duvidas de que os robôs vão ser mais inteligentes do que os seres humanos.”
Contudo, “Os robôs nunca poderão ter sentimentos”.
Há esperança na e para a HUMANIDADE!