UM CERTO VELHO
Rilhas a última côdea
olhos tristes de vergonha
cabisbaixo teimas em passar
invisível ao olhar da sociedade.
Bebericas de forma trémula
alguns goles de néctar de Baco
afogando verdades indesmentíveis
duma dignidade perdida.
Em silêncio aguardas
a tua vez por direito
de atenção merecida
pela tua provecta idade.
Nos traços do teu rosto
leio dias tristes de luto
nos teus lábios leio a ternura
com que criaste os filhos.
Nos teus olhos castanhos
a súplica de um auxílio.
A boina oculta
a argenta dos teus cabelos
o casaco surrado do tempo
disfarça as feridas da indiferença.
Envergonha-me esta maneira
de envelhecer…
As doenças dos velhos
serão nossas brevemente.
S. Teotónio, 11h55m, 26 de março 2017
Zorb@ o Grego