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Vivendo para os 100 – A Revolução da Longevidade e Os Pilares da Transformação Social que Acarretarão uma Drástica Mudança de Mentalidade

Envelhecer agora é coisa do passado, estamos no negócio de viajar no tempo.

Quatro fatores cruciais estão prestes a revolucionar a forma como as pessoas vivem e a sociedade opera: o aumento da longevidade, a inteligência artificial, a requalificação do trabalho e a aprendizagem ao longo da vida.

O aumento da longevidade torna-se evidente ao considerar factos convincentes. Por exemplo, na Dinamarca, a idade de reforma para os indivíduos da Geração Z já está estabelecida em 72 anos, e os Estados Unidos têm mais de 100.000 centenários. Estes marcos resultam dos avanços contínuos na ciência, tecnologia, sistemas de saúde pública, progressos na qualidade da nutrição, aliados à adoção de estilos de vida mais saudáveis. Esta combinação sublinha a promessa de uma vida centenária para as gerações futuras. Nossos avós se tornavam velhos aí pelos 40 anos. Hoje dizemos que os 60 são os novos 40. Achamos que velhice está lá para os 80.

A inteligência artificial, uma força transformadora e disruptiva, dispensa grande elaboração. A fusão de poder computacional, redes digitais e robótica está a alterar radicalmente o cenário da produtividade. Qualquer tarefa que possa ser reduzida a um algoritmo e realizada por sistemas automatizados será inevitavelmente delegada a eles.

À medida que a inteligência artificial assume tarefas anteriormente desempenhadas por humanos, está em curso uma necessária mudança na requalificação do trabalho. Embora muitos papéis possam tornar-se automatizados, o valor da humanidade persistirá na resolução de problemas, na necessidade perene de criatividade e em funções que dependem de habilidades interpessoais. Isto exige uma mudança na nossa perspetiva sobre o trabalho. Devemos preparar-nos para perseguir projetos em vez de empregos tradicionais. Além disso, as pessoas encontrarão cada vez mais motivação no trabalho que prioriza o sentido de realização pessoal, afastando-se da tradicional noção de compromisso vitalício com o emprego monótono.

Chegamos, portanto, ao quarto pilar. A aprendizagem ao longo da vida é uma consequência natural da inteligência artificial e da requalificação do trabalho. A educação, concebida no final do século XIX e solidificada no século XX, foi concebida para preparar os indivíduos para cerca de 30 anos de trabalho, com a suposição de que, aos 60 anos, seriam considerados obsoletos. A educação deve transformar-se urgentemente num sistema social que capacita os indivíduos a contribuir continuamente para a sociedade. Seguir a aprender tanto quanto a se mexer são a combinação equivalente ao elixir da juventude. A falta de ambos está na raiz de problemas de saúde mental e física.

Pesquisadores afirmam que a taxa de demência pode diminuir em pelo menos 40% se as pessoas mudarem o seu estilo de vida, isto é, aprendendo e se mexendo.

O mundo está agora a enfrentar um boom de reformas com a geração dos baby boomers. Só nos Estados Unidos, 10.000 pessoas reformam-se todos os dias. Boomers, em sua maioria, estão saudáveis e cheios de vitalidade, mas estão cansados das amarras do emprego, com indicadores-chave de desempenho, horários rígidos e rotinas monótonas.

As indústrias de pensões e seguros já estão a lidar com cenários em que as pessoas passarão mais tempo na reforma do que em emprego ativo.

Estas são as questões que estamos a começar a abordar, motivando as gerações baby boomer e X a enfrentar, deliberar e colaborar na criação de uma nova perspetiva sobre o envelhecimento que aproveite o aumento da expectativa de vida. Os boomers se preparam para a reforma, mas seguem com propostas de inovação e transformação. E assim a Rodada para Reinventar a Reforma e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de 2030 arranca em Berlim, no dia 21 de Setembro na sede da Fundação BMW.

Ricardo Oliveira Neves, coordenador do Capítulo 50plus da ONG Catalyst2030

A edição em Portugal da rodada global passa por Lisboa no dia 7 de Dezembro, um evento para o qual estão convidados Marcelo Rebelo e Antonio Guterres. Ambos os portugueses de 78 anos são exemplos de pessoas que ilustram o que os baby boomers estão a almejar, isto é, criar uma nova mentalidade da vida pós reforma.

Em vez de envelhecer de forma convencional enclausurados em uma reforma que se coloca como o capítulo final da vida, temos agora a oportunidade de inventar um novo estilo de vida que legaremos para as gerações futuras que viverão a vida centenária. Fazendo o que gostamos, a celebrar a vida, a aprender de forma continuada, a trabalhar com sentido de propósito e realização pessoal e contribuição social.

Envelhecer agora é coisa do passado, estamos no negócio de viajar no tempo.

Ricardo Oliveira Neves,
Coordenador do Capítulo 50plus da ONG Catalyst2030
Berlim, Alemanha
www.lifelong50plus.com

 

ARTIGO ORIGINALMENTE PUBLICADO NO JORNAL PÚBLICO

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