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A Economia Prateada é Feminina … cada vez mais

A importância da mulher na atividade produtiva e no consumo é frequentemente subestimada. Em algumas atividades essa contribuição é não apenas desvalorizada como chega a ser invisível. No entanto, as mulheres são o maior driving force dos mercados prateados

Vamos analisar 3 vetores da contribuição feminina para a economia prateada no mundo, utilizando dados publicados em um relatório da AARP (Associação Americana de Pessoas Aposentadas)

Trabalho: as mulheres estão trabalhando por mais tempo

Nos últimos 30 anos, a força de trabalho na maioria dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) vem registrando um aumento acentuado no número de profissionais mais velhos e no número de mulheres. Tem toda a questão da diferença salarial, das limitações de carreira, do preconceito, etc. Mas o fato inegável é que a presença feminina na atividade produtiva não para de aumentar. Esse fenômeno é ainda mais visível no campo do empreendedorismo. Historicamente, homens criaram muito mais empresas do que as mulheres mas as diferenças vem diminuindo. Nos Estados Unidos, as empresas pertencentes a mulheres são responsáveis por 23 milhões de empregos. Nos países em desenvolvimento, estima-se de 8 a 10 milhões de pequenas e médias empresas com pelo menos uma mulher proprietária.

Não é pouca coisa quando se saber que as mulheres empreendedoras enfrentam desafios que incluem a falta de financiamento, o desconhecimento quanto a recursos de apoio e o preconceito em geral, especialmente quando a mulher pertence a alguma minoria ou comunidade subrepresentada. A mulher lida também com as próprias inseguranças. As estruturas de apoio às empreendedoras frequentemente incluem serviços de mentoria pessoal, visando superar a falta de autoconfiança e a baixa autoestima das mulheres que sonham em criar seus próprios negócios.

 

Familia: mulheres com mais de 50 anos cuidam de várias gerações

Mulheres são as grandes cuidadoras do lar, uma contribuição raramente medida e menos ainda remunerada. Cabe a elas a maior parte do trabalho de casa, cuidam de pais e mães idosos (quando não de sogro e sogra) e ainda ajudam os filhos a tomar conta dos netos. Somente nos EUA 6 milhões de crianças moram com as avós. Muitas vezes, é o trabalho domiciliar não remunerado que permite aos demais membros da família trabalhar e ter renda, que, por sua vez, alimenta o crescimento econômico.

A Organização Internacional do Trabalho estima que, em termos mundiais, 76,2% de todo o tempo não remunerado dedicado a cuidados da casa e da familia seja de responsabilidade das mulheres. Se estes serviços fossem pagos, o PIB de cada país seria de 10 a 39% maior. Mesmo em uma economia avançada como a dos Estados Unidos, a disparidade entre gêneros nesse aspecto impressiona: 61 por cento de todos os cuidados não remunerados do lar são executados por mulheres

Consumo: mulheres com mais de 50 anos conduzem as decisões de compra

Pelo fato das mulheres viverem em média 7 anos a mais que os homens, serem as principais cuidadoras do lar e, ainda por cima, tomarem conta de múltiplas gerações de membros da família, cabem a elas a maior parte das decisões de consumo. Em termos mundiais, as mulheres são responsáveis por 64 por cento de todas as compras, de todos os produtos e serviços, porcentual que deve aumentar para 75% até 2028. Em 2030, as mulheres deverão estar de posse de 66% da riqueza patrimonial e financeira dos EUA. Quanto mais a população envelhece, maior a relevância da mulher como “chief consumption officer”. Cabe a elas a decisão primária em questões de saúde, finanças, habitação, viagens, lazer, alimentação, vestuário e todo o resto.

Apesar disso, as mulheres maduras são frequentemente ignoradas pelas empresas e pela comunicação. A invisibilidade da mulher madura como principal driver de consumo na sociedade moderna é uma dessas miopias do marketing corporativo difíceis de entender.

Eliminar as disparidades de gênero é mais do que apenas uma questão ética, social ou de justiça. É também uma decisão de bom senso econômico e empresarial. A economia prateada crescerá mais rapidamente se as mulheres forem mais ouvidas. Ao mesmo tempo, por serem as grandes tomadoras de decisão, o envelhecimento da população leva, por si só, ao maior empoderamento feminino. Um mecanismo alimenta o outro.

Mudar o nosso olhar sobre a mulher madura contribuirá enormemente para uma sociedade mais saudável, mais feliz e mais realizada. Essa mudança é cultural, e deve derivar da nossa própria sensibilidade e maior compreensão sobre a fundamental importância do universo feminino, particularmente das mulheres 50+, no futuro da economia e das nossas vidas.

Leis e regulamentos podem ajudar nesse processo de amadurecimento coletivo mas, como regra geral, comportamentos impostos por lei demoram mais para serem assimilados, principalmente no Brasil, com um legislativo dominado por políticos populistas e de baixa estatura intelectual, que geram leis distorcidas que frequentemente mais atrapalham do que ajudam.

Para se mudar a percepção da sociedade basta o debate aberto, desprovido de agressões e franqueado a todas as pessoas. Um debate conduzido pela própria sociedade, em especial pelas maiores interessadas: as mulheres maduras.

O Observatório da Longevidade é um think tank que, há 30 anos, constrói inteligência sobre o consumidor maduro e a economia prateada. Nossas atividades incluem eventos, projetos especiais e consultoria corporativa em soluções mercadológicas (inovação, branding, estudos estratégicos de mercado, mapeamento e clusterização de consumidor, estratégias de entrada, desenvolvimento de canal comercial, etc) para o mercado prateado. Nossos escritórios parceiros na Europa, Israel e Estados Unidos oferecem suporte a estudos de mercado mundial, benchmarks e outras referências à economia prateada. contato@observatoriodalongevidade.com.br

Fabio Nogueira

CEO do Observatorio da Longevidade, Vice-Presidente da ADVB, Palestrante, Mentor e Conselheiro

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