“Mulher não tem prazo de validade”, declarou a Claudia Raia, 55 anos, vigorosa e determinada como sempre foi.
Bom, não preciso explicar mais sobre quem é a Claudia Raia. A Claudia dispensa apresentações, ela é tudo aquilo que a gente sabe e mais um monte de coisas que ela mostra nas entrevistas que dá, a cada declaração bombástica que faz.
E porque ela é uma figura única, com a Claudia Raia a gente não pode se comparar.
Podemos até nos inspirar nela, mas não tem como achar que nossa vida pode ser minimamente parecida com a dela.
Hoje, estou aqui para falar sobre velhice de celebridade e a nossa velhice, porque é tão diferente….
Sim, eu sei que apesar do palco e dos holofotes, as celebridades são pessoas como quaisquer de nós. Gente que se divorcia, que fica doente, que briga com os filhos, que precisa de ajuda em casa, gente que lida com dificuldades financeiras, que leva tombos e que se apavora diante da finitude. Mas também sei que, nos tempos das redes sociais e dos milhares de seguidores, ter quem nos siga, acompanhe e queira saber de nós faz diferença. É uma multidão anônima (às vezes num amor cego que só os fãs são capazes de sentir) que ajuda a rebater o que tanto machuca; a solidão.
Num encontro de mulheres na maturidade onde estive para uma palestra, uma das que estava na plateia e que havia terminado o casamento de três décadas, visto os filhos saírem de casa e em vias de pedir a aposentadoria, me disse: o sofá é meu melhor amigo, fico presa a ele muitas horas do meu dia, simplesmente não encontro motivação para me levantar, sair, ir viver a vida.
Então, perguntei a ela: no sofá você não está vivendo?
A mulher me respondeu: eu acho que não, porque fico ali pensando e achando que a vida dos outros é mais interessante do que a minha.
Para uma mulher como essa não tem Claudia Raia que inspire, mas tem algo bem melhor: sua própria capacidade de refletir sobre o que ela conhece como ninguém: sua vida. Foi assim que me pus à escuta dela.
A velhice dos invisíveis é sofrida. Se antes ocupávamos o centro da mesa nos almoços de domingo, agora vamos sendo escanteados para as laterais, a voz vai ficando rouca até desaparecer, a imagem vai se apagando aos poucos e é disso que se traga a invisibilidade na velhice, quando a percepção de relevância na vida começa a ser questionado. Aqui, falo em particular das mulheres habituadas a servir e, na velhice, sem ter muito a quem. Mais ainda: sem vontade de continuar no mesmo exaustivo papel.
Porque aquilo que sempre quisemos não é mais o que queremos. O que sempre nos motivou não é mais o que nos empurra para fora da cama um dia depois do outro. Se é assim, vem a dúvida: então o que é? Onde está o impulso que a gente precisa e quer para continuar vivendo?
Além da busca pela escuta (a que nós desejamos e que precisamos oferecer, porque não somos só nós que queremos falar), só vejo uma solução: nos colarmos aos nossos pares, encontrar gente que sinta o que nós sentimos.
O termo envelhescência circula por aí e tem servido para comparar velhice à adolescência, aquele tempo de tantas dúvidas, muitos questionamentos e reflexões. Se vai por aí, aceito e gosto da comparação, lembrando que na adolescência quem mais queremos por perto são os pares, gente que entenda do que falamos, que sinta parecido com o que sentimos, que se identifique e ofereça eco aos nossos prazeres e nossas dores. Façamos, portanto, como já fizemos quando muito jovens (e tenho certeza de que cada um de nós lembra bem como foi): um coro onde exista mais graça do que dor e, sobretudo, motivação para continuar.
Antes que eu encerre essa conversa de hoje, se me permite vou voltar rapidamente à Claudia Raia que me motivou essa reflexão. Comecei o texto dizendo que ela é, hoje, o que sempre foi e isso (não os cosméticos, as pernas firmes, a beleza física ou a pele tratada) pode ser inspirador. Proponho, portanto, um bom garimpo naquilo que nos fez ser únicos ao longo da vida. Estou certa de que cada um de nós saberá identificar três ou quatro boas qualidades que estejam aí, bem vivas dentro de nós. Pois são elas que vão nos salvar se soubermos deixa-las voltar à ativa.
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