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BALANÇO SOCIAL: OS ELOS MAIS FRACOS

Não deixa de ser estranho que, em tempos de Inteligência Artificial, Smart Cities, viagens turísticas à lua, ChatGPT (…), os elos mais fracos continuem a ser as crianças e os idosos. Muitos são aqueles que não mudam as suas condições de fragilidade, desde que nascem até que morrem. Vivem ciclos geracionais de pobreza que parecem eternizar-se, num claro sinal da ineficácia do combate à pobreza e às desigualdades sociais. Para muitos seres humanos, a realidade social funciona como um rolo compressor que não deixa nascer a esperança. É como se nascessem e, de imediato, morressem socialmente.

No Balanço Social de 2022, são usados microdados dos seguintes inquéritos representativos: Inquérito para as Condições de Vida e Rendimento (ICOR) 2021, European Social Survey (ESS) 2020, Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe (SHARE) 2021.

A Fundação ‘la Caixa”, BPI e Nova SBE atualizam indicadores referentes à pobreza em Portugal e incluem dois capítulos dedicados às crianças e idosos. Dados referentes a 2020 mostram o aumento da taxa de risco de pobreza (18,4%) e da taxa de risco material e social (13,5%) e ainda desigualdade na distribuição do rendimento disponível. Informa que 20,4% das crianças e 20,1% das pessoas com 65 anos ou mais anos, em Portugal, eram pobres.

Em Portugal, mais de um quinto das crianças — 345.000 — eram pobres em 2020. Um quarto das crianças vive em casas com humidade e 11% sem meios para as aquecer. Há 2% que sentiram fome e não puderam comer por falta de dinheiro (são cerca de 34.000 crianças que sobrevivem com fome). Quem pode aprender e viver com fome?

Segundo os dados do Barómetro de Internamentos Sociais, no dia 20 de março deste ano, os hospitais do SNS tinham internadas, de forma inapropriada, 1675 pessoas, mais 60% do que no ano anterior. 81% dos designados internamentos sociais (utentes que se mantêm nos hospitais apesar de já terem tido alta clínica) são pessoas com mais de 65 anos (65 aos 80 anos = 36% / +80 anos = 45%). A falta de resposta da Rede Nacional de Cuidados Continuados e das estruturas residenciais para pessoas idosas (ERPI) são duas justificações, mas não as únicas, há casos de abandono e negligência. No que diz respeito aos dias de internamento inapropriados – 102.807 – registou-se um aumento exponencial, mais 228% do que na edição anterior (31.311). Quem quer (sobre) viver num hospital?  

OS ELOS MAIS FRACOS:

CRIANÇAS – 345.000 eram pobres em 2020.

PESSOAS IDOSAS – Quase 10% das camas dos hospitais são ocupadas por casos sociais, a esmagadora maioria por pessoas com + 65 anos

José Carreira 

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