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COHOUSING – O VIVER NO SÉCULO XXI

Com o passar dos anos estamos vivenciando, na pele, o resultado das projeções que anunciavam o aumento de nossa expectativa de vida em até 30 anos em relação aos nossos avós.

Além dos ganhos que a ciência e a medicina já nos coloca à disposição, implicações dessa vida longeva surgem a nos provocar questionamentos sobre o nível global de qualidade de vida que permeará o nosso futuro. Como estaremos daqui 10, 20 ou 30 anos? Saudáveis? Independentes? Com quem poderemos contar no caso de uma emergência? Não temos respostas para todas essas perguntas, entretanto, sabemos que podemos, hoje, planejar e governar o nosso futuro, pelo menos, quanto ao lugar, como e com quem vamos morar, e isso é já nos conforta.

Ficou interessado? Vamos saber mais!

 

A COMUNIDADE INTENCIONAL

Em primeiro lugar, vamos imaginar um grupo de amigos, acima dos 50 anos que, ao passo em que envelhecem, e ainda que a mobilidade deles seja limitada, continuam próximos uns dos outros, vivendo e convivendo em espaços pensados por eles e para eles. Bom, não?! Isso é possível? Sim!

Envelhecer tendo os seus amigos como vizinhos, e poder contar com eles no que for preciso em uma comunidade intencional, é possível, e é um jeito de morar que já virou realidade em muitos países. Chama-se Cohousing-sênior.

O cohousing-sênior é reconhecido como um projeto de engenharia social, que tem por objetivo promover a qualidade de vida e a saúde dos moradores, por meio da maximização da interação social, da participação, da solidariedade e do apoio mútuo, da cidadania ativa e do respeito ao meio ambiente.

O QUE É COHOUSING E COMO FUNCIONA

Vamos saber mais sobre Cohousing – o Morar no Século XXI.

 

Cohousing é uma habitação colaborativa, surgida como uma resposta social a um problema que afeta, sobretudo, grupos vulneráveis como os jovens ou os idosos.

De acordo com Charles Durrett, “cohousing é uma comunidade intencional, formada por pessoas que decidem morar em um mesmo ambiente físico, no qual o terreno, as construções e as demais benfeitorias existentes constituem-se em meios de integração e convívio entre todos os moradores, permitindo e promovendo uma vida comunitária intensa, mas sem impedir que cada morador tenha uma vida familiar de forma privativa.”

 

Não se trata de um condomínio para idosos, mas de uma “comunidade residencial intencional, construída pelos próprios moradores”, conforme define Charles Durrett, o arquiteto americano que mais estudou as características das comunidades cohousing dinamarquesas. Além disso, projetou e acompanhou a construção de quase 60 comunidades cohousing nos Estados Unidos e no Canadá.

Charles Durret é um arquiteto norte-americano que introduziu o modelo de cohousing nos Estados Unidos.

Toda cohousing possui, em comum, as seguintes características que definem este tipo de comunidade:

  1. Processo participativo;
  2. Projeto intencional de vizinhança;
  3. Instalações comuns;
  4. Gerenciamento pelos moradores;
  5. Estrutura não hierárquica;
  6. Recursos financeiros pessoais e independentes.

“Todos projetam o espaço de acordo com as necessidades do grupo, com casas independentes e áreas compartilhadas como a cozinha, o refeitório ou as áreas verdes. Além disso, compartilham serviços essenciais como a limpeza, jardinagem ou cuidar das crianças.”

Munksøgård é um dos cohousings pioneiros na Dinamarca – imagem do perfil Facebook

ORIGEM DO COHOUSING

Esse sistema nasceu na Dinamarca nos anos 60, e combina diferentes soluções arquitetônicas com os princípios de vida comunitária, cooperativismo e propriedade coletiva. Munksøgård  é um dos cohousings pioneiros na Dinamarca.

Inicialmente era destinado para casais jovens com filhos, devido ao seu caráter cooperativo. Assim, quando o pai e a mãe estivessem trabalhando os filhos poderiam ser supervisionados e cuidados, num sistema de revezamento pelos adultos.

O revezamento de equipes para a compra de alimentos e preparação de refeições para todos os moradores, no refeitório da “Casa Comum”, é o outro grande diferencial dessas comunidades.

Com o passar dos anos, os moradores mais velhos dessas comunidades multigeracionais resolveram optar pela vida em um cohousing-sênior, onde a idade mínima dos moradores costuma ser de 50 anos.

 

QUEM MORA EM UM COHOUSING

O Fórum Econômico Mundial (WEF) reconhece os benefícios sociais, econômicos e ambientais da habitação colaborativa, um modelo mais inclusivo e sustentável que facilita a convivência, a cooperação e o uso responsável dos recursos naturais e energéticos.”

 

Viver em comunidade também é uma alternativa contra a solidão que afeta, sobretudo, às pessoas idosas e àquelas que sofrem discriminação.

 

O cohousing para idosos é um dos modelos mais populares, mas não é o único uma vez que esse modelo é adequado para:

  • grupos de amigos que querem morar juntos e estabelecer um projeto comum,
  • pessoas que contam com recursos limitados,
  • pessoas com alguma deficiência ou com tratamentos crônicos,
  • grupos com necessidades específicas de espaço, iluminação ou acústica, etc.

 

COMO O COHOUSING PODE SER CONSTITUÍDO

A forma mais frequente de propriedade no cohousing é a cooperativa de habitações com concessão de uso. Isso significa que o imóvel pertence à comunidade, mas seus habitantes têm direito a morar nele e a utilizar os espaços comuns para o resto da vida. Este usufruto vitalício pode ser deixado como herança ou ser vendido através da cooperativa, facilitando assim a mudança de residência.

 

O imóvel para a habitação pode decorrer de:

  • Adquisição do terreno e construção;
  • Aluguel de imóveis mediante acordos com os proprietários.

 

Em ambos os casos a cooperativa assume todas as despesas originadas do projeto.

 

COHOUSING – O MORAR NO SÉCULO XXI PELO MUNDO

 

A teor do site da Iberdrola, grupo do setor energético global, no âmbito internacional existem modelos de habitações colaborativas que variam de acordo com o país e refletem as preferências de cada sociedade:

Dinamarca – Prevalecem os cohousings com serviços comuns centralizados em um mesmo bloco, que pode ser independente ou estar integrado aos demais edifícios.

Espanha – Predominam os cohousings para idosos com habitações que não superam os 80 m2 com quarto, cozinha e banheiro.

Estados Unidos – O habitual é que a vida comunitária decorra em um edifício independente e isolado dos demais.

Reino Unido – A maioria das comunidades são mistas, seu tamanho varia entre 10 e 40 habitações e as áreas de uso coletivo se concentram em um edifício à parte.

Suécia – É habitual que os espaços comuns ocupem um ou vários andares em blocos de diferentes alturas.

 

RESULTADOS DA VIDA EM UM COHOUSING-SÊNIOR

O governo da Dinamarca, país de origem do cohousing, à medida que o tempo foi passando e o número de cohousings para adultos sêniores foi aumentando por lá, passou a registrar resultados e estatísticas confiáveis sobre o impacto da vida em uma comunidade intencional nas pessoas mais velhas.

Alguns resultados:

  • Os moradores iam menos ao médico;
  • Tomavam menos medicamentos;
  • Vivam oito anos a mais que a média da população, e
  • Tinham baixíssimos índices de demências senis e de Alzheimer.

 

A partir dessas descobertas, o número de comunidades-cohousing sênior, criadas na Dinamarca, superou o de multigeracionais.

Charles Durrett afirma que, cohousing é a melhor alternativa àquela ideia que muitos adultos mais velhos têm de viverem na própria casa até não poder mais.

É a opção para quem quer continuar se desenvolvendo, vivendo a vida plenamente e de maneira independente num ambiente que é mais prático, descomplicado, com certeza, mais econômico, mais divertido, mais interessante e mais saudável do que aquele que qualquer instituição poderia criar. Charles Durrett

COHOUSING – REFLEXÕES SOBRE O VIVER XXI POR LILIAN SHIBATA

 

A psicóloga Lilian Shibata, fundadora da Aqal Consultoria, estuda o assunto há anos e tem muito a nos ensinar sobre as vantagens da vida sênior em um cohousing.

Lilian Shibata é uma das idealizadoras do projeto VIVER XXI, um cohousing em São Paulo, em fase de planejamento e implantação.

Em suas profundas e fundamentadas lições Lilian afirma:

“Estamos concretamente num momento de inflexão sentindo as consequências da fragilidade dos contextos que nos cercam, da ansiedade gerada por essa condição planetária, da não linearidade dos fatos, e do incompreensível pela profusão de dados e acontecimentos. E, isso tudo somado à nossa condição de 60+, é inevitável a reflexão ou indagações de como queremos viver os nossos próximos anos, considerando a longevidade estendida.

Observo empiricamente que grande parcela desse público (60+) que hasteou bandeiras da contracultura, nas transformações da consciência, consequentemente os valores que alteraram comportamentos, estão agora hasteando a bandeira da longevidade ativa.

Muitos estão cuidando dos pais ainda vivos, e muitos vivem sozinhos sem ou não tem filhos. E neste cenário estendido da longevidade, cá estamos nós buscando novos modelos do viver, não mais considerando que filhos devam cuidar dos pais até morrerem (para algumas culturas, gerações e pessoas, isso ainda é considerado o lógico ou óbvio).

E sempre pergunto: Para que criamos os nossos filhos? Pensando em seres autônomos e competentes para contribuírem na evolução da humanidade, para seguirem os seus propósitos de vida, ou para cuidarem de nós pais idosos e dependentes, muitas vezes limitados mental e emocionalmente?

E recortando ainda mais dentro da perspectiva de comunidades intencionais, o cohousing e coliving hoje já com termos em português cocriados pela arquiteta e ativista Lilian Lubochinski, co-lares e co-lar respectivamente.

O Viver XXI portanto, é a consolidação de um viver contemplando a essência do significado de comunidade, na intenção concretizada nas diferentes composições do morar que privilegia o senso coletivo, acolhendo a diversidade; a colaboração como tônica a partir da empatia; o compromisso com o outro referenciado no respeito; o senso de pertencimento materializado em espaços de convivência sustentáveis que valorizam vínculos e apoios.” Lilian Shibata

COHOUSING – BRASIL

Cohousing-sênior Vila ConViver. É uma proposta de comunidade intencional para professores, no bairro Jardim Alto da Cidade Universitária, em Barão Geraldo, Campinas. Destinada para docentes da UNICAMP aposentados ou com mais de 50 anos em vias de se aposentar.

Com base em mais de dois anos de estudos e pesquisas sobre as alternativas de moradia para os adultos mais velhos, o grupo idealizador consolidou alguns dos principais conceitos sobre o modelo de cohousing-sênior que orienta todo o projeto. Citamos alguns:

“Refletir e transformar – A proposta tem por objetivo levar os professores aposentados e aqueles que estão próximos da aposentadoria a refletir sobre as opções de moradia e inclusão social disponíveis atualmente, estimulando-os a criar um novo mundo para si.

Nova arquitetura social – Essa proposta de arquitetura social, que incorpora os mais recentes avanços nas áreas da psicologia, geriatria, gerontologia, antropologia e sociologia, contribui de maneira inequívoca para uma vida mais longa, com muito melhor qualidade e muito mais segurança.

A nova realidade do envelhecimento – É uma oportunidade para viver uma nova etapa de vida de maneira extremamente rica em termos de experiências e relacionamentos em comunidade – evitando, assim, os perigos do isolamento que, inevitavelmente em algum momento, leva à depressão e ao agravamento das patologias típicas da envelhescência.”

 

COHOUSING – PORTUGAL

Segundo matéria do jornal português Público, o cohousing está ainda a dar os primeiros passos em Portugal, mas tudo aponta para que, dentro de poucos anos, seja uma forte realidade.

Os governos municipais (autarquias) de Lisboa e do Porto, estão convencidos de que este tipo de projeto é o futuro. Do lado dos investidores privados é considerada uma nova área de aposta e também as cooperativas querem participar neste novo conceito residencial.

Uma iniciativa em Portugal é a HAC.ORA Portugal – Sênior Cohousing Association – uma Associação privada, não-governamental, do Porto, que promove e apoia a criação de comunidades de habitação colaborativa – cohousing – seguindo um modelo de desenvolvimento sustentável, a nível financeiro, ecológico e pessoal.

Conclusão

A conclusão deve ser sua! Agora que conhece um pouco a respeito, quer morar em um cohousing-sênior? Eu quero!

FOTO DE CAPA: PHOTO © SATT ARQUITECTOS

Sílvia Triboni

Editora e produtora de conteúdo em longevidade e envelhecimento ativo.

Ativista no Movimento Old Lives Matter Brasil e Portugal.

É fundadora do projeto Across the Seven Seas,

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