Artigo

ENCICLOPÉDIA AMBULANTE

A pauta da diversidade, intergeracionalidade, multigeracionalidade e da inclusão nunca estiveram tão presentes nas redes sociais. O motor desse processo tem nome: ODS e ESG. Siglas que propõem mudanças na cultura das organizações, onde o ser humano é o protagonista central. Porém, o conteúdo que inunda as redes se limita à conquista de likes e não correspondem a uma mudança efetiva na gestão das empresas. Simon Sinek, um expert nesta pauta, tem uma frase genial: “a empresa é feita de pessoas, produtos e serviços destinam-se a pessoas, o mercado consumidor é composto de pessoas, portanto se você (empresário) não entende de pessoas, sinto muito, mas está no negócio errado”.

A idade é um crime a ser punido ou uma conquista a ser celebrada?

A miopia empresarial tem no preconceito etário um de seus alvos mais visíveis. Colaboradores 40+ já percebem os olhares furtivos do entorno e a desconfiança do chefe, mas são os 50+ que sentem na pele o peso da discriminação etária e profissional. Como se a idade fosse um crime a ser punido e não uma conquista a ser celebrada. Sabidamente, nações são lideradas por 50+, corporações têm 50+ no comando, o Prêmio Nobel é concedido majoritariamente aos 50+, quem mais emprega e melhor paga são os empreendedores 50+, e a ciência já provou que a partir dos 50 anos o ser humano atinge seu nível intelectual mais elevado. Por que essa conta não fecha? Por que as empresas dizem uma coisa e fazem outra? Por que a idade se tornou um ônus? Por que os 50+ são punidos no momento em que podem ser mais produtivos? Há uma incoerência, para não dizer uma ignorância, no ar. Estas são questões que merecem respostas à altura, sem subterfúgios, frases feitas ou desculpas esfarrapadas.

As inovações não obedecem limites de velocidade.

Será que as organizações e a sociedade não se dão conta de que os 50+, 60+, 70+ são uma Enciclopédia Ambulante? Quem nasceu nos anos 50 como eu, viu, viveu e testemunhou muita coisa: invenções, guerras, revoluções, viagem à lua, nações que nascem e morrem, a revolução na moda, a liberdade sexual, o rock n’rol, a clonagem da Dolly, a bossa nova, a tv a cores, a Ditadura e a Democracia tomar conta do Brasil, o pager, o fax, o celular, a internet, a inteligência artificial, o carro autônomo, os robôs que aprendem, o blockchain, o metaverso, as criptomoedas e a porta do futuro continua aberta. Tudo isso passou na nossa frente e daria para rechear volumes e mais volumes de uma enciclopédia de papel. Só que vivemos na era digital e todo esse conhecimento está encapsulado em alguns gigabytes e está disponível para todos que possuem um celular ou computador. Este é o nosso tempo. É fato que as mudanças e as inovações não obedecem limites de velocidade, mas antigamente a vida acontecia mais devagar, o que nos permitia assimilar as mudanças com segurança. Agora é vapt-vupt. Na transição do século 20 para o 21, a tecnologia pisou no acelerador e nós estamos tentando acompanhar o ritmo da corrida, com muita vontade de aprender, desaprender, reaprender e vencer. O conhecimento que acumulamos em décadas não pode ser subestimado. É um ativo altamente valorizado em outras culturas e pode contribuir para reduzir erros e acertos nas empresas, tradicionais ou emergentes.

O idoso é um jovem que deu certo.

A expectativa de vida cresceu. A longevidade é um fato. Viver mais inclui muitos mais: mais saúde, mais emprego, mais renda, mais qualidade de vida, mais amor, mais tudo de novo. Portanto, reivindicamos o direito de participar desse processo, trabalhar, empreender, inovar e construir o futuro junto com os jovens, num ambiente de convivência harmônica e produtiva. Nós somos aliados e parceiros, não somos concorrentes ou inimigos. A compreensão deste fato é capaz de mudar a realidade, que hoje nos pune porque envelhecemos, quando na verdade o idoso é simplesmente um jovem que deu certo.

RICARDO MUCCI

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