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Há uma pulseira que diz “estou aqui” e que ajuda idosos a regressar a casa

Este ano, diferentes esquadras do país atenderam a 12 idosos perdidos na via pública. Uma simples pulseira tornou possível levá-los de volta a casa ou para junto dos familiares, através do programa Estou Aqui Adultos, que resulta de uma parceria entre a PSP e a Santa Casa da Misericórdia.

Na mão direita ou na esquerda? Mais ou menos apertado? À porta de um número ímpar da Rua Diário de Notícias, em Lisboa, o agente da PSP Lopes da Silva coloca com delicadeza uma pulseira no pulso fino e de pele engelhada de Maria Fernanda, 87 anos e residente no Bairro Alto há 60. “Está ótimo”, ela garante. E o agente continua. “Olhe, sabe para que é que isto é, não sabe?”. “Já tenho ouvido falar.” Mais vale repetir. “Isto tem aqui um numerozinho, no qual vão ficar [associados] os seus contactos [de familiares], no caso de se perder, de ter algum problema na via pública, e não trazer nada consigo.” Então, Maria Fernanda atira a sua conclusão: “Quer dizer, a partir de agora, sou uma mulher protegida. Boa!”. Saltita levemente os pés sobre a soleira da porta do prédio e bate palmas.

A idade não perdoa, já alertam os ditos populares. Com o passar dos anos, a ficha de patologias e a limitação da autonomia tendem a aumentar. Não são contas simpáticas para quem se habituou a fazer a sua vida pela cidade e, um dia, se vê na iminência de não conseguir sair de casa sozinho sem se perder pelo caminho. Uma pulseira e um número podem mudar a segurança dos idosos? É a isso que se propõe o programa nacional Estou Aqui Adultos, uma parceria entre a Polícia de Segurança Pública (PSP) e a Santa Casa da Misericórdia.

A iniciativa propõe-se a distribuir uma pulseira, à qual é atribuído um número de identificação, a uma população mais vulnerável como os idosos, que ajudará os transeuntes ou agentes da polícia a ajudá-los e a identificá-los caso estas pessoas se percam na via pública. Depois do sucesso do programa Estou Aqui Crianças, criado em 2012, em 2015 a PSP lançou um projeto-piloto para a versão de uma faixa etária mais elevada. “Estamos a falar de todos os idosos, mas é mais direcionado para pessoas que, em função de uma patologia ou da idade já avançada, possam momentaneamente ficar desequilibradas e perderem a noção do tempo e do espaço na via pública, sem qualquer contacto ou identificação. Com a pulseira [uma tira de pano com uma pequena esfera metálica onde está inscrito o número de identificação] poderão facilmente ser identificados e contactados os seus familiares”, explica o porta-voz da PSP de Lisboa. Em maio de 2016, passa de experiência a programa nacional.

Artur Serafim explica que se um cidadão ou agente dá conta de que uma pessoa está perdida pode ligar para o número de emergência nacional, o 112, indicar que a mesma dispõe de uma pulseira ao abrigo deste programa e ditar o número nele inscrito, para que a Direção Nacional da PSP possa aceder à ficha deste utilizador e contactar as pessoas próximas. Assim sendo, a pulseira não dispõe de nenhum sistema de localização GPS integrado. Funciona apenas como “uma ferramenta” de trabalho, um meio para cortar caminho.

 

Cerca de mil pulseiras ativas

Idosos perdidos nas ruas da cidade “não acontece de forma tão diária e ainda bem, mas vai acontecendo”, alerta o porta-voz da PSP de Lisboa. A título de exemplo, lembra que, este ano, registaram 12 casos a nível nacional em que foi necessário “fazer a ligação entre as pessoas e os familiares das pessoas”. Reduzindo a escala geográfica para a Área Metropolitana de Lisboa, são quatro casos desde janeiro. Números que, na sua perspetiva, justificam o alargamento do programa a cada vez mais pessoas. “O que nós queremos é que haja mais adesão e podemos, assim, salvaguardar a vida de muitas pessoas.”

A nível nacional, a distribuição de pulseira no âmbito do Estou Aqui Adultos já atingiu os milhares desde 2016. Ao todo, foram entregues 1388 pulseiras, sendo que apenas 961 destas estão ativas no sistema. E Lisboa representa uma grande fatia deste total: há atualmente 441 ativas. De acordo com a PSP, as esquadras de Campo Grande e Odivelas são aquelas que agregam o maior número de entregas até ao momento.

O processo de distribuição, esclarece o representante Artur Serafim, “é muito simples”. Pode ser solicitado pelo próprio portador, se estiver consciente da sua condição e sentir que quer estar mais seguro de cada vez que sai do seu domicílio. Ou mesmo por um cuidador, familiar ou amigo, bem como por uma instituição da qual o idoso esteja à guarda. Para a solicitação, basta preencher um formulário na internet ou dirigir-se a uma esquadra, para que os agentes da PSP possam ajudar no processo. Depois de gerado um número de identificação, a pulseira é acionada e será entregue ao idoso.

Com a pandemia de covid-19, os desafios alteraram-se. “Notamos que há uma maior adesão e saudamos esse comportamento, porque é o ideal para nós”, diz o porta-voz. Em resposta ao interesse acrescido por parte de familiares e idosos em aderir ao programa, a PSP disponibiliza agora de um maior leque de esquadras em que as pulseiras possam ser distribuídas. Até ao momento, este serviço não está disponível em todas as esquadras, “porque não temos essa capacidade em termos de número de pulseiras”, explica Artur Serafim. Contudo, o objetivo a médio prazo “é que uma grande fatia das esquadras da Área Metropolitana de Lisboa tenha as pulseiras”.

 

FONTE: Diário de Notícias 

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