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IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: MAIOR INVESTIMENTO E FORMAÇÃO COMO FORMA DE GARANTIR A DIGNIDADE

A qualidade dos cuidados prestados à população idosa institucionalizada em Portugal tem sido frequentemente negligenciada, como testemunham as queixas e denúncias expostas nos meios de comunicação social.

Segundo o relatório da APAV “entre 2013 e 2020, a APAV registou um total de 10.307 processos de apoio a pessoas idosas, em que 8458 foram vítimas de crime e de violência. Estes valores traduziram-se num total de 16.962 factos criminosos.” Perante este quadro, é fundamental refletir na importância de cuidar a pessoa idosa com dignidade e respeito, priorizando as suas necessidades.

As causas das sucessivas falhas na qualidade da prestação de cuidados à população idosa institucionalizada são complexas e multidimensionais.

Se por um lado, a falta de investimento público é um fator determinante, uma vez que a grande maioria das organizações sociais está dependente de recursos financeiros para cuidar com qualidade, desde infraestruturas, equipamentos, profissionais qualificados, desenvolvimento de programas e atividades com vista às necessidades físicas, sociais e mentais dos idosos. A falta desse investimento público irá ter implicações negativas na capacidade destas instituições garantirem os serviços a que se propõem: assegurar o bem-estar, a segurança, e a qualidade de vida da população idosa.

Por outro lado, a falta de recursos humanos, nomeadamente com formação na área do envelhecimento, compromete a prestação de cuidados com qualidade. Um estudo publicado na revista Gerontology and Gerontology identificou “a falta de formação adequada dos profissionais do setor social como um dos principais fatores que contribuem para a má qualidade do apoio aos idosos.” É fundamental aumentar o investimento na capacitação de profissionais na área do envelhecimento, que incluam conhecimentos alargados sobre o processo de envelhecimento, as necessidades e especificidades das populações mais velhas, o uso de uma comunicação eficiente e sobretudo habilidades de cuidado empático. Só assim será possível alcançar a humanização dos serviços no atendimento ao idoso e garantir uma velhice digna.

A qualidade (ou falta dela) dos serviços prestados aos idosos nas instituições sociais de apoio à população mais velha merece uma efetiva reflexão por parte da sociedade. Implementar políticas públicas mais rigorosas, mais e maior fiscalização, e garantir o investimento na formação de profissionais para que as instituições cumpram os seus objetivos.

Além disso, é necessário estimular a participação social dos idosos, valorizando suas experiências e conhecimentos acumulados ao longo da vida. Só assim poderemos construir uma sociedade mais justa e equitativa, reconhecer que a felicidade individual está intimamente ligada à felicidade coletiva. É importante lembrar que cada pessoa é uma peça fundamental na comunicação do destino, e que a felicidade de cada um de nós está profundamente ligada à dos outros.

Por isso, é determinante que os poderes não se sobreponham ao cuidado com a população envelhecida. No entanto, quando isso acontece, e o poder se concentra em atender aos interesses individuais negligenciando o bem-estar da população envelhecida, esse princípio fundamental é violado. É importante que as lideranças entendam que uma sociedade saudável e justa depende do cuidado com os idosos e que o investimento em políticas públicas voltadas para o envelhecimento é crucial para o desenvolvimento sustentável dos países.

 

Dulce Coimbra, aluna da licenciatura em Gerontologia Social, da Escola Superior de Educação de Coimbra, do Instituto Politécnico de Coimbra.

 

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