Miguel Esteves Cardoso assinou um texto curioso, no jornal Público de 08 de Janeiro de 2018:
“A Medição da Velhice”:
Perdem-se bons nacos das nossas preciosas vidas a discutir quem é que está velho e quem é que não está.
Para poupar esse tempo desenvolvi um método científico que não falha.
Segundo o Guiness a pessoa mas velha do mundo tem 117 anos.
Para se entrar para o Guiness seria preciso ter 118 anos.
Proponho assim que uma pessoa esteja velha quando basta multiplicar por 2 a idade que se tem
para entrar diretamente para o Guiness.
Quem tiver 59 anos ou mais é, por conseguinte, velha, já que o dobro (118) é Guinessável.
Eu, com 62 anos, tenho uma dobradinha de 124, o suficiente para fechar os noticiários
em todo o mundo.
Uma pessoa com 20 anos precisa de multiplicar a idade por 6 para chegar ao Guiness.
Quem tem uma dobradinha de 6 ou mais pode legitimamente considerar-se muito nova.
Com 24 anos a dobradinha é 5 e a pessoa é nova, mas não muito.
Chegando aos 30 a dobradinha cai para 4, inaugurando a categoria da pessoa que já não é nova. Aos 4º chega-se à última dobradinha antes da velhice: é o 3 (porque 3 vezes 40 são 120) de quem tipicamente já não é nada novo.
O nada diz tudo.
Este estado de graça, generosamente longo, prolonga-se, vá lá, dos 40 aos 60 anos,
idade em que se atinge a temida dobradinha de 2.
A partir daí já não há mais dobradinhas – só vivendo mesmo até aos 120.
A meia-dobra é a mais deprimente de todas as dobradinhas, excepto a terça-dobra dos 90 anos.
(Público, 8 de janeiro de 2018)
Recorde a entrevista a Miguel Esteves Cardoso conduzida por Fátima Campos Ferreira: