Você escreve sobre a longevidade ser um produto do capitalismo para lucrar com quem envelhece. Como lida com a própria velhice?
Eu não lido bem. Com essa osteoporose, eu vou parar no pronto-socorro só para tomar morfina, tamanha é a dor. Também não lido bem com pessoas amigas que têm noventa, 95 anos, e estão com dificuldades disto ou daquilo. Não acho que teríamos que passar por isto, não fosse a longevidade uma necessidade e um dogma capitalista. A minha vida, atualmente, é extraordinariamente reduzida. A dor me mobiliza o tempo todo, é o centro da minha vida. E a degeneração da retina me impede de ler. Mesmo ver televisão se tornou um limite. Dependo das pessoas para me informar, ou do Jornal nacional, que não me informa (ri). Estou numa situação em que me sinto em um declínio. O mundo vai se estreitando. Não gosto deste momento da minha vida. Não acho necessário.
Jean-Claude Bernardet não romantiza a velhice e é direto: não lhe faz bem a longevidade como um dogma capitalista. “Não gosto deste momento da minha vida, não é necessário.” Custa caro sobreviver
Leia a entrevista completa ao autor que, em maio de 2021, lançou O corpo crítico, pela Companhia das Letras. Trata-se, de fato, do corpo do crítico, o próprio autor, como pano de fundo para escrutinar a usura da indústria farmacêutica e hospitalar. Em tempos pandêmicos, de relação tensionada com a doença e de dependência da estrutura sanitária, a obra vem a calhar e aponta para uma pergunta importante: na luta pela vida, quem lucra com o sofrimento e a longevidade de pessoas adoecidas?
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FOTO DE CAPA: Jean-Claude Bernardet fotografado por Renato Parada Renato Parada/Divulgação
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