Artigo

REFLEXÃO SOBREA A MORTE COMO TEMA DE ESPERANÇA

Morreu fisicamente o cantor – fadista Carlos do Carmo, sem dúvida um dos maiores intérpretes de sempre da música em geral.

Não falo apenas na música portuguesa, mas vou mais longe falando da música em geral.

Esta é a afirmação que corre por aí, de lágrima em lágrima, numa espécie de ajuste de contas com a inevitabilidade da morte.

No entanto, se pensarmos bem, Carlos do Carmo desapareceu fisicamente, porque as suas canções, os seus fados, a sua voz, a sua personalidade, estão presentes, continuam presentes em nós, através dos discos, das imagens de televisão, das recordações e, o que é mais importante, porque a vida e a morte são um complemento, são uma continuidade, são uma razão de ser.

Ou seja: o Ser Humano precisa de saber, de uma vez para sempre, que a vida não é injusta, nem é um oásis, muito menos o paraíso de alguns e o inferno de outros.

A vida é o que é.

E se tem componentes de esperança, de saudade, de alegria, de desgosto, de fraqueza ou de força, esse facto deve – se, apenas a nós próprios que cometemos o erro de nos considerarmos independentes da vida ou mais importantes do que ela, sem olharmos às leis universais que são, sem dúvida, as únicas verdadeiramente significativas.

Nascemos. Vimos de onde?

Morremos. Vamos para onde?

Eramos nada e voltamos a ser nada? Erro profundo.

O que eramos é o que somos e o que vamos ser. Peças desta complexa engrenagem universal, parte activa da existência, concebida de uma forma indiscutível e inalterável.

Sabemos, então, que a existência (seja do que for) não é um absurdo. Faz parte da universalidade de que falo e da complexidade do criador, do aquitecto da vida. E só Ele nos poderia explicar o mistério. Mas não explica para que as diversas vidas que passam por cada Ser, não sejam uma martírio, mas sim uma esperança.

Devemos, portanto, concluir, dando seguimento a esse acto de esperança, que a vida tem duas componentes: uma material, outra espiritual e que é um erro concluir que a material é a mais importante, porque nos vemos, porque conversamos, porque discutimos, porque amamos, porque erramos, porque ganhamos, porque falamos uns com os outros, porque somos pobres, porque somos ricos, porque temos emprego, porque estamos desempregados, porque passeamos, porque comemos, porque somos bons, porque somos maus…

Pois é. Mas essa não é uma vida que se queira assim tanto. Esse tipo de vida é uma obrigação, ou uma expiação. Às vezes é um acto de violência.

Então o que sobeja para nossa felicidade?

A vida espiritual.

E é nesse ponto que se encontra Carlos do Carmo. Atingiu a virtude suprema de viver a  verdadeira vida que é a do espírito. O resto pode continuar a ser uma incógnita, mas ninguém negará que o seu desaparecimento físico permitiu que o Ser Humano fosse descoberto em toda a sua plenitude e que a sua passagem pela vida material (a vida terrena) fosse devidamente exaltada.

Da sua passagem pelo nosso convívio ficou o registo da sua voz e a beleza das canções que interpretou. Ficou, também, a saudade do bom homem que foi. Mas ficou para sempre a história documentada da sua passagem pela Terra, antes do regresso ao Universo donde veio e onde ficará à espera de outros destinos.

FERNANDO CORREIA

 

FOTO: LUCÍLIA MONTEIRO (VISÃO)

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