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Vacinação de idosos e profissionais: prioridades 

As Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas iniciaram a vacinação, levando com ela a esperança de dias melhores. O risco diário de contágio tem sido, nos últimos dez meses, uma constante inquietação para residentes e colaboradores. A vacina traduz-se numa perspetiva de voltar à normalidade do dia-a-dia das instituições e o fim das vivências confinadas a “quatro paredes”.

Após a iniciação da vacinação em respostas sociais de institucionalização permanente, surge então a indignação da não inclusão de outras respostas sociais para idosos: Centros de Dia e Serviços de Apoio Domiciliário (SAD). Estas duas respostas preveem o apoio a idosos e, em muitos casos, o serviço de higiene e apoio na alimentação é necessário para dar resposta às necessidades das pessoas. O que significa que o contacto direto existe, havendo um risco acrescido de contágio para ambas as partes. São duas respostas imprescindíveis, não só para os seus beneficiários, mas também para as famílias. Nos Serviços de Apoio Domiciliário, o apoio no domicílio é o seu objetivo primordial, colocando toda a sua equipa de intervenção num risco elevado de contágio.

No caso dos Centros de Dia, declarar o seu encerramento tem implicações também na dinâmica de vida das pessoas idosas e dos cuidadores informais, para além dos cuidados prestados ficarem comprometidos. Encerrar foi a solução rápida, vacinar teria sido a solução mais assertiva! Esta medida reativada de encerramento traduz-se num agravamento da condição individual e social, nomeadamente em termos de mobilidade, estado emocional e evolução de demências (quando existentes), devido ao confinamento. Estes agravamentos, ao nível social e de saúde, podem produzir custos acrescidos nas políticas públicas do país. Este não aparenta ser o caminho mais adequado e estratégico, tendo em conta as consequências avassaladoras que a economia portuguesa atravessa devido à pandemia.

No passado dia 27 de janeiro, a Associação Nacional de Gerontólogos (ANG) lançou um comunicado de apelo ao Governo, mencionando que “o encerramento dos Centros de Dia traduz-se no comprometimento da saúde e do bem-estar das pessoas idosas, em especial naquelas que apresentam défices cognitivos ligeiros e quadros demenciais, cujas alterações serão irreversíveis”.

Refletindo sobre todos estes fatores, questiono-me, de forma apreensiva, sobre o porquê de estas respostas sociais não serem incluídas nesta fase de vacinação. Os critérios de escolha não são claros ou coerentes.

Apela-se à adequação de medidas direcionadas para os idosos, é necessário ter uma visão assertiva sobre as decisões que, a longo prazo, podem representar consequências dolorosas para o terceiro setor, para esta população e para a sociedade.

Os Lares em Portugal ficaram marcados pela significativa percentagem de casos positivos e mortes por Covid-19, resultante da falta de apoio às políticas sociais. Aguarda-se pela consciencialização que, a cada dia que passa, também as pessoas mais velhas apoiadas por Centros de Dia e SAD têm direito a serviços dignos e à esperança de retomar alguma normalidade.

 

Marta Sousa – Gerontóloga

Diretora Técnica Centro de Dia Casa do Areal – Fundo Social Município de Braga

Órgão Social da Associação Nacional de Gerontólogos

 

FOTO DE CAPA: torstensimon

 

 

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